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Estamos vivendo o período da grande repriorização.
Este termo não surgiu da minha cabeça. Ele soou como música quando ouvi as perspectivas de Bill Mcdermott, CEO da ServiceNow, em entrevista para CNBC.
É uma grande repriorização, pois o novo cenário exige de nós, como investidores e fundadores, uma reorganização de prioridades para viver uma nova era que será muito diferente. O delta decorre da abundância dos últimos 13 anos, no qual vivemos um período extraordinário na economia: Taxas de juros globais muito baixas. Isso incentivou empresas a investirem muito em crescimento e consumidores a comprarem e investirem mais. Ganhar dinheiro com taxas de juros zero significa arriscar.
Mas como cantou Cássia Eller, o pra sempre, sempre acaba.
E acabou. Sem mais, nem menos. De repente. Sem aviso prévio. Deixando uma geração de pessoas treinadas para viver sob uma economia movida a taxa de juros zero. (Inclusive eu)
Apesar de ainda vivermos luto pelo que passou, é hora de virar a página. Como escreveu o lendário investidor Howard Marks, estamos diante de um "Sea Change", isto é, uma mudança de mares. Segundo o mesmo, que tem 76 anos, é a terceira vez na sua carreira como investidor que vê mudança em tamanha magnitude. Esse Sea Change é a transformação da economia de "Taxa de Juros baixa" para “Taxa de Juros moderada”. Esta transformação, por mais que pareça simples de entender, é um grande pivô no que tange à execução de investimentos e construção de empresas, pois:
O valor de qualquer empresa é seu fluxo de caixa descontado. Um dos fatores de desconto é a taxa de juros. Maior a taxa, maior o desconto em relação ao fluxo de caixa futuro e consequentemente, menor o valuation. O dinheiro de hoje está mais caro, o custo de oportunidade é maior. Com isso, o incentivo para investir em ativos de risco é menor e diligência é maior.
No que tange à execução, o custo de errar é maior. Investir 20% do budget em uma iniciativa que não deu resultado tem um custo muito maior quando o dinheiro é caro. Por outro lado, a diligência de clientes em comprar se torna mais rígida. A restrição de demanda será uma realidade dura. Dados da Craft Ventures apontam que a expectativa de crescimento das 10 empresas de SaaS listadas na bolsa com maior múltiplo de receita caíram 50% em relação ao ano anterior1.
Dito essas reflexões, "A grande repriorização" é um termo adequado, pois no fim do dia, é um ajuste de rota. As empresas estão demitindo na faixa de 10% — 25%. Este tipo de lay off é uma readequação ao custo de oportunidade dos próximos anos. Haverá também empresas que vão quebrar e outras que não farão layoffs, mas em geral, o movimento geral é de readequação.
Sobre a economia global? O cenário base que estou trabalhando é que não teremos uma recessão drástica, mas uma mais suave. É a mesma ideia prevista pelo Bank of America e JP. Morgan na temporada de Earnings do Q4. O que me faz crer neste cenário:
Os dados americanos de inflação, excluindo o imobiliário, apresentam estabilidade diante das últimas medidas do FED.
Um exemplo empírico é que Tesla está diminuindo o preço dos seus carros.
Pense na realidade do Brasil, os preços não têm aumentado nos últimos meses sob a intensidade que foi no primeiro semestre de 2022.
A China está reabrindo. A maior economia comercial do mundo reprimiu a demanda interna desde o COVID e a abertura é um sinal de que podemos ter um boost no consumo global. É positivo pois aumenta a liquidez e o comércio do mundo, mas também representa um risco inflacionário dado a maior demanda por commodities. De qualquer forma, parece um movimento que pode prevenir uma crise de demanda ainda maior globalmente (especialmente para os países emergentes).
Estresse da demanda: altas taxas de juros incentiva consumidores a gastarem menos. Consumidores estão sob muito estresse e reduzindo o consumo. Isso reduz a inflação.
O problema europeu de energia foi razoavelmente resolvido. O cenário drástico de "pessoas morrendo de frio" na Europa devido a guerra não se desenrolou.
Agora que descrevi a grande repriorização, vou ponderar algumas previsões, oportunidades e riscos.
Empresas boas vão se tornar excelentes. Empreendedores estão buscando eficiência e otimizações. Com isso, estamos testemunhando uma contração de despesas e custos que não são essenciais para geração de receita e o output final é um balanço mais forte e lucrativo. A taxa de juros baixa, no qual o custo de não optar por crescer/investir era muito alto, impediu que empresas boas se tornassem excelentes em termos de lucratividade.
Empresas com modelos de negócios frágeis vão falir. Assim como a dot-com bubble, quando temos períodos efervescentes, recheados de FOMO (fear of missing out) e muito capital no ecossistema um dos outputs é investimentos parrudos em empresas ruins. Histórias são compradas com mais facilidade do que números. Isto acabou. Não haverá mais dinheiro para financiar modelos de negócios com unit economics ruins e falências farão parte do noticiários.
O perfil de investidor será mais conservador. O cenário de moderada taxa de juros, moderada disponibilidade de capital e moderada inadimplência gerará uma situação muito menos cômoda do que nos últimos anos. Com isso, o perfil de investidores de ativos alternativos será mais conservador e diligente. Na indústria de Venture Capital, já estamos vendo empiricamente esta tendência.
A grande repriorização fará com que plataformas nice-to-have sofram muito. Como disse Bill, este momento atual faz com que empresas olhem para todos os fornecedores e reflitam: quais plataformas que utilizamos são realmente essenciais? Como escrevi no artigo A realidade atual do mercado de Venture Capital e seus impactos no mundo das startups: “Em um período de recessão, o discurso se muda do "nice-to" para o "must-to". As empresas tenderão a só gastar dinheiro em soluções quando for algo que possa gerar valor monetário e tangível. É o famoso "move-the needle economy", no qual soluções realmente transformadoras são priorizadas. Com isso, valor de produto e claridade de outcomes será mandatório.”
Como disse Stanley Druckenmiller, nunca houve um período tão difícil de ler a macroeconomia, então espero que esse texto não envelheça mal. Por mais que imagine um cenário menos drástico, o mundo tem movimentos muito complexos acontecendo como a Guerra Russia x Ucrânia, a incerteza sobre o Dólar, a “estagflação” e o nível de endividamento das nações europeias. É um cenário propício a um "Black Swan".
Independente das incertezas, tenho convicção da tendência escrita por Chamath: Higher Rates Will Lead to the Next Generation of Great Tech Startups. Estou comprado na tese de que estamos diante do momento único no qual no longo prazo veremos empresas de tecnologia se tornando excelentes em termos de lucratividade e geração de valor, com o foco no que mais importa. É o período mais desafiador e incerto na minha trajetória profissional. Espero que este texto traga elementos interessantes para reflexões estratégicas. Se quiser tirar suas próprias conclusões, vou deixar abaixo uma lista de conteúdos sobre o momento atual que podem te ajudar.
É hora da grande repriorização.
Back to work,
Lucas
Disclaimer: Esse artigo reflete as minhas opiniões pessoais e não expressam necessariamente a visão da gestora pela qual eu trabalho. As opiniões e conteúdos com o objetivo único de levar conhecimento e discussão. Fique a vontade para discutir comigo abaixo nos comentários ou respondendo este e-mail.
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