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Nesta edição:
Vision Fund e AI
No-Code
Redes sociais
Retail Media
Vision Fund e AI
A qualidade de um investidor é, por definição, avaliada pela sua capacidade de gerar retornos financeiros. Há uma diversidade de como gerá-los, mas basicamente se enquadram em dois princípios:
Comprar ativos baratos em relação ao quanto eles valem hoje.
Comprar ativos “sob preço justo ou mais caros” em relação ao quanto eles valem hoje, mas mais baratos em relação ao quantos eles valem amanhã.
Venture Capital está na opção dois.
Compramos ativos caros hoje mas que esperamos que seja barato quando olhamos o futuro.
No Venture Capital, a percepção do valor futuro está vinculado, dentre outros aspectos, ao tamanho da oportunidade de mercado. Os investidores que conseguem enxergar antes, tendem a estar na frente. Como está no manifesto da Astella, “o investidor é aquele que enxerga o que os outros não veem”.
Não é só sobre enxergar, mas acima de tudo sobre ter convicção e agir.
Dito isso, há um flywheel que se retroalimenta:
a) encontrar a oportunidade.
b) ter convicção que ela vale a pena ser perseguida.
c) agir
d) manter o foco na convicção.
Neste mês, foi relatado o prejuízo de US$ 32 bilhões do Softbank Vision Fund, o maior fundo de Venture Capital da história.
O que me fascina de toda história é que a tese deste fundo foi concebida sob o objetivo de investir em inteligência artificial.
Em 2017, Masayoshi Son, fundador do Softbank, enxergou que a maior transformação de plataforma da história era A.I e captou um fundo de US$ 100 bilhões para investir em business cujo Inteligência Artificial estivesse no centro. Ele disse, na época, frases que estão no vocabulário de 99% dos VCs em 2023:
"I believe this artificial intelligence is going to be an epoch-making revolution, and it will change all the aspects of our life."
"AI is going to be a driver of the next industrial revolution, just like electricity was for the last one."
"I believe that AI will be the biggest revolution in human history. It will change everything, from our daily lives to the global economy."
"Artificial intelligence is the ultimate tool to unlock human potential and create a better future for all of us."
"AI is going to be the most important technology of our time, and it's going to transform every industry and every aspect of our lives."
Masa encontrou a oportunidade, teve a convicção, agiu. Dentre os aspectos que levam a tal prejuízo do fundo, uma das hipóteses é que o foco acabou disperso. Para justificar o investimento em empresas como Uber e WeWork, Masa citou:
"The reason why we invested in companies like Uber and WeWork is not just because they're good companies, but also because they're using AI to create new business models and disrupt traditional industries."
Com elasticidade mental, tudo se torna “possível". Mas aí que reside o problema. Há uma diferença muito relevante entre investir em empresas de AI versus investir em empresas que usam AI. É tipo a diferença entre investir em empresas de tecnologia e empresas que usam tecnologia.
Todas as empresas serão, um dia, tech enabled.
Investir significa fornecer recursos para que a empresa gere retornos acima do custo de capital. Uma empresa de puro “AI” usa estes recursos principalmente para “P&D”. Ou seja, o retorno acima do custo de capital nasce a partir do aumento do time de engenharia, produto e design que desenvolverá novas soluções.
Um empresa “AI-Enabled”, uma parcela relevante desses investimentos irá para “Sales and Marketing”. Óbvio que P&D sempre será relevante, mas S&M ou operações eram os principais focos de empresas como Uber e WeWork.
O mercado de “AI-enabled” ou “tech-enabled” tende a ser muito maior, mas por outro lado, o retorno tende a ser pautado em outros fatores que não a tecnologia.
Mas como tese, o Vision Fund faz muito sentido: “Investirei em 2017 muito dinheiro em empresas de AI ou que usam AI nas operações e isso tornará um diferencial competitivo relevante de longo prazo, fazendo o catch up se tornar mais longo”
De uma coisa podemos ter certeza,
Vision Fund é um nome adequado.
+ No-Code
A lógica de build vs buy software está mudando drasticamente com No-Code. O gasto de “build” está se tornando cada dia menor para aplicações de baixa/média complexidade. O custo benefício de “build” tem se tornado cada vez maior. Isto representa um risco a sistemas SaaS que não sejam críticos.
software is eating the world. and low-code/no-code is eating "non-critical" SaaS
Exemplos:
O Banco Santander utiliza a plataforma no-code Appian para desenvolver fluxos de trabalho automatizados e ferramentas de gerenciamento de documentos.
A Coca-Cola utiliza a plataforma Airtable, que oferece recursos no-code para gerenciamento de projetos, colaboração e organização de dados.
O Uber utiliza o Webflow, uma plataforma no-code, para criar páginas de destino personalizadas e experiências de usuário atraentes.
O Airbnb utiliza o Bubble, uma plataforma no-code, para criar e lançar rapidamente recursos e ferramentas internas.
+ Feature ou Produto
Redes sociais é um modelo interessante de analisar. Ele prospera e sobrevive sob o efeito de rede (+usuários, +valor) e há uma tendência oligopolista. No ocidente, nos últimos 5 anos, me arrisco a dizer que só uma nova rede, o TikTok, colocou em risco os winners.
Nos últimos dois anos, houve dois hypes:
BeReal: Uma foto diária para seus “close friends”
Poporazzi: uma rede social de fotos tiradas por amigos.
O sonho seria uma execução de: “come for this feature”, “stay for the network”. O desafio foi que o network, nem a própria feature foram fortes os suficientes.
Outra curiosidade é que ambos tiveram tração fortíssima em pouco tempo. A Abreu Newsletter escreveu em setembro sobre os 10 milhões de usuários diários ativos do BeReal em agosto de 2022.
+ Retail Media
Uma das linhas de receita crescente nos marketplaces é a de “Ads”, ou seja, propagandas. No Mercado Livre, ele representa em termos de receita 1.4% do GMV. No Instacart, ele já é perto de 30% da receita total. Amazon Ads gerou US$ 38B em 2022.
Estas receitas nunca se tornarão a base de receita de um marketplace, mas é uma das adjacências óbvias de aumento de monetização. É uma fonte lucrativa que será top5 de geração de receitas em marketplaces maduros.
O trade marketing, isto é, exposição de produtos em ambientes offline, é uma prática consolidada na economia que cada vez mais será utilizada no mundo online.
Dentre as startups que estão empreendendo neste segmento, vale citar a Bornlogic (investida Astella) e a Newtail.
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