Sunday Drops 🌊 #64
Lições com Martín Escobari | Inclusão como segredo dos unicórnios | O mito de Ícaro
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Insights acionáveis do Sunday Drops 64:
Interpretação do ciclo econômico baseado na opinião de um dos maiores investidores da América Latina.
Variáveis mais significativas para empresas de sucesso.
A forma como startups disruptam incumbentes baseados na teoria de Clayton Christensen
As 3 formas de atingir não consumidores de um mercado: Resolvendo preço, complexidade ou conveniência.
O mito de Ícaro e a relação com founders de startups
Lições com Martín Escobari
Martín é uma lenda do mercado de investimento. Ele é co-presidente da General Atlantic, presidente do conselho do comitê de investimento e head da América Latina. No seu currículo também está a trajetória como fundador e CFO do Submarino.
General Atlantic ("GA") é uma das principais firmas globais de Growth Capital, com 42 anos de existência, mais de 400 empresas investidas e US$ 80B em ativos sob gestão.
Martín é talvez o maior investidor da região e sua experiência de mais de 20 anos ao lado de startups nos traz insights que transcendem ciclos econômicos. No drops de hoje, compartilharei insights derivados das suas participações em espaços públicos, como no podcast 20VC e o Bottomline, do Brazil Journal.
O que importa nas empresas de sucesso
Ao longo dos 42 anos de existência, a GA investiu em mais de 400 empresas. Segundo Martín, ao analisar os dados dos principais casos de sucesso a firma encontra três características que se sobressaem estatisticamente:
a) Tamanho do mercado
b) Defensibilidades (Moats)
c) Capacidade de execução do time
De todas essas variáveis, a mais correlacionada com sucesso, segundo Martin, é o tamanho do mercado. Isso deriva do fato que uma empresa nunca conseguirá crescer ao ponto de ser maior do que o seu mercado.
Uma provocação interessante do investidor é que há casos em que o mercado atual não corresponde ao mercado potencial. Quando um novo mercado está sendo construído, é importante sonhar com universos alternativos e idealizar qual o tamanho do potencial deste novo mercado, dado que os números atuais não correspondem ao potencial futuro.
Competição com concorrentes que captam e gastam mais
Dentre as causas de ansiedade na vida do empreendedor, está a concorrência, principalmente quando ela está capitalizada. Martín argumenta que ter um competidor mais capitalizado e que gasta mais não é algo que deveria ser tão preocupante.
Ter um concorrente ultra capitalizado deveria ser assustador em apenas um cenário: em mercados Winners Takes All, quando o efeito de rede é muito relevante. Por exemplo, tornar-se o search engine de uma região, a rede social ou o principal marketplace B2C (como Alibaba/Mercado Livre) são exemplos de dinâmicas winners takes all. Segundo Martin, apenas 3% dos mercados são winners take all e grande parte são, winners take most.
Momento atual do mercado
“Ciclos só são óbvios com retrovisor”
Martin argumenta que a ressaca no mercado tech decorre de uma festa descontrolada nos últimos 2 anos. E que todos ajustes são saudáveis.
Na entrevista para a Bottomline, em 24 de outubro, ele é perguntado se já atingimos o fundo do poço no ciclo: A impressão dele é de que estamos na noite longa, mas ainda não no momento mais escuro da noite. O fato de que é provável uma recessão nos Estados Unidos está dando sinais de que irá acontecer, os balanços dos banco centrais ainda não terem sido reduzidos e indices de precificação de empresas públicas (como Shiller PE Ratio e Buffet Ratio) indicam que é possível mais um ajuste, provavelmente menor do o já ocorrido.
Vai chover mais um pouco. Não acredito que teremos mais uma correção de 50%, mas a minha visão pessoal é de que ainda é um momento de cautela.
O Buffet Ratio, por exemplo, calcula o valor do mercado total das empresas públicas americanas sobre o PIB anual.
Se olharmos o momento corrente, estamos ainda um pouco acima da tendência história, o que nos dá pistas que há espaço para uma correção marginal.
Venture Capital - ProCyclical
A classe de ativos de investimento em tecnologia, é “SuperCíclico". Isto nos mostra que há uma tendência de investir de mais em bull markets e de menos em bear markets.
Em mercados emergentes e no growth market, Martín traz a perspectiva de que sempre no momento de alta, aparece capital turista na América Latina. Isto é, fundos globais que se animam para investir na região no momento em que o cenário é positivo, mas no momento em que se mostra mais desafiador e incerto (o que é natural), esses fundos turistas tendem a sair e deixar a região desamparada. Essa interpretação é condizente ao que está acontecendo no momento. Vale ressaltar que sempre há os fundos de late, como a GA, cujo compromisso com a região está em todos os momentos de ciclos.
Para aprofundar nas lições, recomendo escutar:
Tecnologia na América Latina é mais sobre inclusão do que disrupção.
Essa frase, de Shu Nyatta (Former Partner Softbank e founder Bicycle Capital), é uma das minhas preferidas. Até por que:
Nubank bancarizou uma parcela gigante de pessoas.
99Taxi democratizou a oferta de transporte por qualquer motorista e facilitou para que mais pessoas usassem transporte privado para se locomover.
Omie democratizou o acesso a ferramenta de gestão para pequenas empresas.
Ebanx facilitou o acesso a compras internacionais de plataformas como Alibaba e Spotify.
Olist permitiu que o pequeno varejo vendesse online com mais conveniência.
Trybe democratizou o acesso de jovens a educação através de cursos e ISA (Income Share Agreement)
A verdade é que quase todos os casos de sucesso de startups na América Latina tem inclusão no DNA do sucesso.
Essa tese está alinhada com o pensamento de Clayton Christhensen, professor da Harvard Business School, que escreveu o clássico “O dilema da inovação”. Segundo ele, a forma como empresas disruptoras desbancam incumbentes é alcançando a classe de clientes NonComsuption (Não consumidores). Segundo Clay, empresas medíocres focam nos competidores vigentes ao invés de pensar em como incluir pessoas ou empresas que ainda não são consumidores.
Em entrevista para Harvard, Clay disse:
O disruptor está, portanto, competindo não contra outros fornecedores, mas contra o "não consumo". Está criando novos consumidores. “A inovação transforma algo que custava tanto, só os muito ricos tinham acesso”, explica. “Essas inovações o tornam tão acessível e simples que pessoas normais podem fazer o que apenas os ricos e muito qualificados poderiam fazer antes”
A inabilidade em comprar dos não consumidores tende a estar vinculada a três variáveis: Custo, inconveniência ou complexidade.
O tema do Non-Consumption é ainda mais forte em mercados emergentes como a América Latina, que por questões sociais e econômicas a maior parte da população não participa do consumo de bens e serviços que são utilizados em massa pela população mais rica. Essa situação representa uma grande oportunidade para as startups na América Latina. Elas têm o papel de democratizar o consumo de tecnologia e serviços de qualidade para uma classe imensa de "não consumidores". O desafio é justamente como atingir essa população garantindo um LTV (Lifetime Value) sustentável e relevante para a empresa.
Sem dúvida grande impacto que nós como investidores e empreendedores agregamos para a região é através do desenvolvimento de startups que permitam a inclusão de serviços e tecnologia de qualidade para pessoas ou empresas.
Se no passado das regiões emergentes o valor estava na extração, no futuro o valor está na inclusão.
Founders que voam muito perto do sol, como Ícaro
Nas últimas duas semanas, dois founders dominaram os noticiários: Sam Bankman-Fried e Elizabeth Holmes.
Infelizmente não estiveram de forma positiva nos jornais: Enquanto que Sam, fundador do FTX, deixou inúmeras pessoas com risco de perder suas economias por incompetência e possivelmente fraude, Elizabeth, fundadora da Theranos, foi condenada a mais de 11 anos de prisão por fraude.
Ambos me lembram o mito grego de Ícaro, que após fugir do labirinto de Creta por meio de asas construídas por seu pai acabou voando muito perto do sol… e suas asas derreteram e ele morreu.
O mundo do Venture Capital incentiva a criação de mitos, como o de Ícaro. Por vivermos uma lei da potência no qual poucas startups ditarão a maior parte do retorno da classe de ativos, a busca é sempre por founders que busquem voar alto… o perigo é que aconteça o ocorrido com Sam e Elizabeth.
“The Fall of Icarus” by Jacob Peter Gowy
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Até o próximo domingo,
Lucas Abreu
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