đ Bem-vindo e bem-vinda ao artigo mais recente do Sunday Drops - uma newsletter dominical sobre tecnologia e startups.
âïž Se vocĂȘ ainda nĂŁo Ă© inscrito, adicione seu email abaixo e junte-se a uma comunidade de mais de 2.400 empreendedores e investidores.
đ€ Obrigado pela parceria. Se vocĂȘ considera o Sunday Drops valioso e te agrega valor, me ajuda a crescer? Compartilha diretamente com aquela pessoa que adora esse tipo de conteĂșdo, no grupo de whatsapp, no slack da firma, com seu ou sua sĂłcia. Obrigado!
Quem gera a demanda captura o valor Ă© a releitura de um artigo que jĂĄ escrevi. Essa mĂĄxima Ă© tĂŁo importante que semanalmente a uso nos mais diferentes contextos.
Essa tese é baseada na Teoria da Agregação, do meu pensador tecnológico preferido, Ben Thompson.
Em qualquer mercado, a cadeia de valor Ă© dividida em 3 partes:Â
Os Fornecedores que sĂŁo os produtores, a oferta.Â
Os Distribuidores que sĂŁo o elo conector entre oferta e demanda.Â
Os Consumidores que sĂŁo a demandaÂ
Essa trĂade enfrenta uma disrupção causada pela internet.Â
Para explicar, vamos fazer uma viagem ao tempo: Imagine-se agora estando em 1973.Â
Para ler um artigo ou escutar um ĂĄlbum novo do seu artista favorito, era preciso que na livraria ou na loja de discos da sua regiĂŁo estivesse vendendo o que vocĂȘ buscasse consumir. Esse pequeno empresĂĄrio comprava diretamente de quem tinha o direito, que no caso eram jornais, editoras ou gravadoras (distribuidores).
Dito isso, quem tinha o controle da oferta, ou seja, quem tinha controle do conteĂșdo produzido por mĂșsicos, jornalistas, cineastas, era quem mais capturava valor. Se vocĂȘ tentasse fazer algo independente antes da internet vocĂȘ nunca teria alcance, pois o Ășnico jeito dos consumidores te acharem seria atravĂ©s de um canal relacionado ao distribuidor. Ou seja, os produtores, os reais detentores do talento, tinham poder limitado.
PrĂ© Internet: O papel do distribuidor era fazer com que suppliers alcançassem o cliente final.Â
Vamos agora falar da maior disrupção da nossa era, a internet, e como o jogo mudou.Â
A internet criou uma forma que qualquer pessoa pudesse distribuir produtos sem depender de um middlemen. Ou seja, os produtores podem alcançar os consumidores diretamente.Â
Quando essas possibilidades se abrem, a figura do distribuidor muda. O distribuidor no mundo prĂ© internet prosperava porque a oferta era reprimida: sem eles, os produtores nĂŁo alcançariam a demanda.Â
Com a internet, temos a transformação: para escutar uma mĂșsica nova, basta que um arquivo mp4 seja transmitido online, para ler um artigo, basta acessar um site tipo substack. NĂŁo Ă© mais mandatĂłrio a criação de um ativo fĂsico que exige estoque, custos de transporte, custos de fabricação, etc. Ă medida que as inovaçÔes se tornam linhas de cĂłdigo, o custo marginal para atingir um novo cliente tende a zero.Â
Nesse novo mundo, ao invĂ©s de buscar capturar o supply, os middlemens/distribuidores buscam gerar valor para os consumidores. Ou seja, quem tem a atenção do consumidor final (principalmente redes sociais e grandes marketplaces) Ă© quem tem maior acesso aos lucros.Â
Esse fenĂŽmeno Ă© descrito por Ben Thompson na sua famosa Teoria da Agregação. No mundo prĂ© internet, vocĂȘ capturava valor ao controlar a oferta. No mundo pĂłs internet, vocĂȘ captura valor ao agregar a demanda.Â
Quem consegue agregar a demanda Ă© quem oferece a melhor experiĂȘncia do usuĂĄrio. A melhor experiĂȘncia significa gerar mais valor para a demanda e a principal fonte de valor decorre principalmente do que chamamos de efeito de rede, que significa que quanto mais usuĂĄrios, mais valor para toda rede.Â
Efeito de rede gera barreiras de entrada e vantagens competitivas ao criar um ciclo virtuoso: quanto mais usuĂĄrios entram na plataforma, mais atrativo ela Ă© para os outros usuĂĄrios, o que gera mais benefĂcios para que novos usuĂĄrios entrem e assim, ela se torna ainda mais forte Ă medida que mais e mais membros acessam a plataforma. Isso torna a dinĂąmica do mercado monopolista (ou seja, haverĂŁo poucas plataformas ganhadoras).
O que quero dizer Ă© que a dinĂąmica da internet faz com que a agregação de demanda seja muito mais concentrada do que a agregação da oferta.Â
Talvez vocĂȘ jĂĄ esteja imaginando quem sĂŁo os grandes agregadores, certo? Podemos citar Instagram, Google, TikTok, Airbnb, Uber entre outros.Â
Afinal, o que define um agregador?Â
Ben Thompson descreve 3 caracterĂsticas1 que todos os agregadores devem ter:Â
Agregadores tem uma (1) relação direta com seus usuĂĄrios. Agregadores representam uma destinação na qual os usuĂĄrios interagem. VocĂȘ vai diretamente no site ou app do agregador para interagir com os produtores. E por isso que a tese se chama a Teoria da Agregação: essas empresas agregam a demanda dos consumidores em um sĂł lugar. Google para pesquisas, Uber para transporte, Airbnb para hospedagem.Â
Agregadores tem (2) custo marginal zero para servir novos usuĂĄrios. Quando vocĂȘ agrega milhĂ”es ou bilhĂ”es de usuĂĄrios, Ă© crucial que vocĂȘ nĂŁo tenha custos extras para atendĂȘ-lo. A visĂŁo Ă© que seja apenas mais uma linha de cĂłdigo em um database.Â
Agregadores tem uma (3) geração de demanda com custos de aquisição decrescentes. Eu sei que o termo Ă© confuso, mas ele se refere basicamente ao efeito de rede. Quanto mais usuĂĄrios, mais valor para todos os usuĂĄrios e assim, vai ficando cada vez mais atrativos para novos usuĂĄrios entrarem na plataforma. Ă medida que tem mais usuĂĄrios, mais suppliers se interessam em estar na plataforma. Quanto mais suppliers de ativos digitais (tipo influencers, conteĂșdo, mĂșsica, etc), mais valor para os consumidores.
Toda essa dinĂąmica dos agregadores explicam a frase culminada por Erik Toremberg:Â
Quem gera a demanda captura o valor
Ă uma derivada da teoria da agregação. AlĂ©m de plataformas, pessoas que geram valor a demanda tendem a capturar cada vez mais o valor do seu trabalho que antes estavam na mĂŁo de distribuidores que controlavam a oferta.Â
Um bom exemplo para exemplificar essa transformação gerada pela internet Ă© uma atitude do genial mĂșsico brasileiro Tim Maia.Â
Em um movimento considerado insano nos anos 70, ele resolveu criar a sua prĂłpria gravadora, Seroma, que depois virou VitĂłria RĂ©gia Discos. Na Ă©poca, um perĂodo prĂ© internet, a empreitada nĂŁo teve muito sucesso, pois faltava capacidade de distribuição para lojas por todo o paĂs. Sem discos nas lojas espalhadas pelo paĂs, sem retorno financeiro. Apesar disso, Tim Maia passou a ter a totalidade dos direitos autorais da sua mĂșsica.
O que era insano para Ă©poca, se tornou genial nos dias de hoje. No mundo da internet, no qual artistas podem alcançar seus fĂŁs sem precisar de gravadoras, Tim Maia se tornou um dos maiores recolhedores de direitos autorais do Brasil2 (capital que outrora iria para mĂŁo de gravadoras). O talento do produtor passou a gerar frutos. Ă a prova viva de que, no mundo da internet, quem produz o valor (no caso o artista) tende a ter parte mais relevante da captura de valor (que antes estava com os middlemans).Â
Outro exemplo interessante Ă© o da inserção de influencers nos esportes.Â
VocĂȘs devem ter lido ou visto no instagram que hĂĄ uma moda de Youtubers lutarem boxe. AtĂ© Whinderson Nunes fez uma luta com o pugilista PopĂł.Â
Uma dessas lutas foi do youtuber Jake Paul com o ex-campeĂŁo do UFC Tyron Woodley3. Cada um ganhou US$2M pela luta. O que impressiona Ă© quando comparamos os ganhos em relação aos outros que lutaram no evento, que foi 20x menor. O critĂ©rio para ganhar tanto mais dinheiro nĂŁo foi qualidade tĂ©cnica. A questĂŁo Ă© que a luta com o youtuber foi a que mais atraiu (agregou) a audiĂȘncia. Jake Paul gerou demanda, capturou valor.Â
Outro exemplo interessante Ă© a publicação editorial.Â
Jornalistas estĂŁo migrando de grandes jornais para newsletters pagas (principalmente dentro do Substack). Escritores como Casey Newton, Glen Greenwald, Matt Yglesias e Andrew Sullivan optaram por vender diretamente o seu conteĂșdo para assinantes finais e assim, estĂŁo ganhando as vezes muito mais que nas suas antigas instituiçÔes. Ou seja, os produtores estĂŁo capturando mais, o que reflete a criação de valor. Eles produzem, eles capturam o valor.
No mundo da agregação, quem gera a demanda captura o valor
Esse texto reflete ideias assimiladas por dois artigos:Â
- Whoever generates the demand captures the value, do Erik TorenbergÂ
- Aggregation Theory, de Ben Thompson
E se vocĂȘ leu atĂ© aqui, nĂŁo deixa de assinar :)
ou compartilhar!
Vamos nos conectar nas redes? twitter | linkedin
até próximo domingo,
Lucas Abreu
Remuneração dos lutadores no evento que teve Jake Paul x Tyron
Jake Paul ($2,000,000) def. Tyron Woodley ($2,000,000) via split decision
Amanda Serrano ($75,000) def. Yamileth Mercado ($45,000) via unanimous decision
Daniel Dubois ($100,000) def. Joe Cusumano ($111,000) via KO
Montana Love ($60,000) def. Ivan Baranchyk ($60,000) via TKO
Tommy Fury ($15,000) def. Anthony Taylor ($40,000) via unanimous decision