Hey,
foram 10 dias na Califórnia-Palo Alto-San Francisco. Neste tempo, fui ao Brazil at Silicon Valley, me reuni com fundos globais e convivi com empreendedores e investidores.
O ROI em termos de experiência é sempre alto. Compartilho abaixo insights, que como não poderia ser diferente, estão carregados do tema AI:
Mas antes…
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1) Taxas de crescimento exponenciais
Ouvi no Vale que nunca haviam se visto empresas com taxas de crescimento como tem acontecido com as de AI. Há cases de crescimento de uma magnitude de 0 a ~$30MM de receita anual em 12 meses.
Há algumas razões:
O awareness e boom de AI. Nesta newsletter, nos jornais, nos podcasts, nas reuniões, este se tornou o tema "business related" mais relevante. Isto facilita o awareness e a curiosidade de todos, o que ajuda a vender mais.
Desejo de compra. O custo de ser um late adopter pode ser alto. Dito isso, no USA, todas as empresas públicas são cobradas para ter uma estratégia de AI e isto leva a compra de softwares de AI (87% das empresas no USA consideram o tema como prioridade vs 48% no Brasil).
Velocidade na construção. Junta-se variáveis explosivas: i) muitos talentos trabalhando com AI (~90% dos 2nd time founders que conheço que estão começando uma nova jornada neste mundo), ii) capital para financiar novos projetos por meio dos VCs e o (iii) fato de ser muito mais rápido para construir MVPs e produtos com o crescimento de AI.
Tudo isto resulta em alta demanda para as ofertas de startups.
O outro lado da história é que há um efeito meio "Clubhouse". Altíssimo crescimento que muitas vezes é acompanhado de baixa retenção. Um exemplo é o Jasper, tool para marketing e vendas, que já experimenta uma queda de crescimento esperada após um boom inicial. Os contratos, até de soluções para enterprise, tendem a ter um "lock-up" e switching cost muito menor.
2) De Co-piloto para Piloto
O Autopilot da Tesla talvez seja um bom exemplo: se você colocar o sistema de "autopilot" ativo, o papel do motorista é apenas colocar a mão no volante para estar preparado em caso de intercorrências. O co-piloto é o humano.
Eu acreditava que os user-cases de médio prazo seriam de co-pilotos para ajudar o piloto (humano). Estava errado.
Os pilotos serão a AI. Os copilotos são os humanos. Como no autopilot da Tesla.
A narrativa de "Sell work, not software" da Sarah Tavel parece ser a dominante.
Como disse a Courtney Z. Chow, da Battery Ventures na BSV:
Supercharging inefficient workflows is the most common use case (co-pilots), but the most interesting ones are those that disrupt the processes themselves. Those are hard to find because the application layer is still too thin in terms of business model.
3) O tal do reasoning
Reasoning: The process of thinking about something in order to make a decision
A grande pergunta da humanidade hoje é: os modelos de inteligência artificial atingirão o "reasoning" ou seja, a capacidade de raciocinar?
Os LLMs são impactantes? Sim. Mas seus user cases mais conhecidos hoje são em tarefas manuais/de automação. São "simples" e já que geram grande valia. Isso mostra o quanto gastamos massa encefálica com tarefas que, muitas vezes, não exigem "inteligência" profunda. Como redigir um email, revisar um texto, editar um código, preparar uma apresentação, agregar informações e por aí vai.
É através do tal do reasoning que virá um impacto social estrondoso. Se modelo é capaz de pensar por si próprio, automaticamente ele chegará a novas derivadas e passará a substituir empregos/concentrar em menos pessoas, especialmente na classe de "knowledge workers".
Vou usar meu exemplo de escritor: hoje eu não me considero substituível por chatgpt pois no fim do dia ele é um grande agregador de regressões que probabilisticamente geram a melhor resposta ou melhor artigo possível. Ele não pensa.
Se atingirmos o reasoning, ele será capaz não só de usar regressões, mas de pensar por si próprio.
Será um concorrente (ou sócio) muito mais poderoso.
Isso vale para diversas profissões: nutricionistas, advogados, consultores, investidores, médicos, designers e por aí vai.
AI will probably be smarter than any single human next year. By 2029, AI is probably smarter than all humans combined. - Elon Musk
4) Tamanho de mercado
Assim como em 2023, o tamanho do mercado é uma variável que surgiu nas conversas por consecutivas vezes. Há um receio de que uma parcela relevante das startups LatAm não tenham mercado suficiente para gerar retornos de bilhões de dólares, que é o alvo dos fundos globais post series A.
A regra de bolso defendida atualmente é que para uma empresa de software fazer IPO (outcome esperado de fundos de growth globais), é necessário US$250MM de receita. Sob um câmbio de dólar/real de 5.3, o desafio se torna colossal.
Somado ao aspecto do tamanho de mercado, há um “ceticismo” devido o baixo hit ratio: em 2021 houve massivo investimento em startups na região que não se apresentaram como grande winners no portfólio de um fundo global. (obviamente há excessões)
O lado otimista da moeda é o case Nubank, que já é um dos maiores investimentos de VC da história. Ele faz com que todos os investidores, por mais que tenham uma variância do humor sobre a região, sempre fiquem atento ao que acontece pois sabem do potencial financeiro da LatAm.
5) Captura de valor
Uma grande pergunta (que não há um framework base ainda!) é sobre quão sustentáveis são as novas startups baseadas em AI.
A tese de captura e geração de valor é complexa dado que em muitos casos é possível criar uma nova aplicação em poucos meses. Se é possível fazer isto, provavelmente será também para os concorrentes. Um exemplo histórico são mecanismos de busca. No começo da internet, havia ~20 google alikes. E só um dominou o mercado. Espera-se que, das várias empresas de AI focadas em alguma vertical, o sucesso esteja concentrada em poucas assim como acointeceu no caso de search.
Algumas vezes escutei em conversas com founders/investors: "coloca AI no pitch que vai ser mais fácil para convencer investidores". Isto, além de ingênuo, é enganoso pois a grande pergunta é sobre o tamanho do diferencial competitivo. No centro das discussõesm estará a sofisticação e propriedade de dados, além da capacidade de treinar o modelo.
The right to win precisa ser sólido.
6) Cultura de confiança no Vale do Silício
Nunca havia me tocado que no Vale a cultura de investir tempo com as pessoas é muito maior. Durante o talk do Victor Lazarte com o Henrique Dubrugas na BSV, o founder da Brex mencionou sobre as mais de 100 horas investidas do Victor na época que ele ainda era menor de idade em mentorias e ajudas (disclaimer: isso foi no Brasil mas esse argumento mostra que pode ser muito worth it e já é uma cultura do vale empregada pelo mesmo).
Depois, o Victor mencionou sobre a cultura do Vale de estar junto, gastar tempo com pessoas novas e qualificadas. Esse tema ficou na minha cabeça e voltou à tona em diversas conversas: Em um mundo que todo mundo otimiza o seu tempo (e enfileiram reuniões de 30min), parte da magia no Vale é o leap of faith de investir tempo com pessoas boas.
BSV
Mais um ano que cheguei com expectativas altas que foram superadas. Até hoje o melhor evento que já fui, principalmente pela interação com founders e investidores.
Obrigado Brazil at Silicon Valley pelo convite.
ZeroDois% pela Educação
Uma organização em prol da educação pública no Brasil fez o lançamento durante o BSV e vale o destaque pela qualidade do projeto (e das pessoas envolvidas). O ZeroDois% convida fundadores e VCs a se comprometem a doar pelo menos 0,2% de seus ganhos ou carry em prol da educação no Brasil, que é a principal ferramenta de transformação social do país.
Acompanhem a página deles no linkedin e fique por dentro das novidades: https://www.linkedin.com/company/zerodois/
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