Reflexões sobre o mercado de investimentos em tecnologia na LatAm
Collab: Weekly Tech Update + Sunday Drops
Este domingo é uma edição especial ao lado da
. Juntamos esforços para trazer um retrato do momento do mercado tech da América Latina.Julia também é a convidada do Abreu Podcast nesta semana e lá abordamos os findings deste artigo, o momento do mercado de tecnologia e a sua trajetória de produtora de conteúdo.
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Reflexões sobre o mercado de investimentos em tecnologia na LatAm
O tempo está realmente voando...
Chegamos na metade do ano, e ainda estamos com “mixed feelings” sobre o mercado de tecnologia local. Depois de pensar e discutir bastante entre nós, resolvemos colocar o “dedo no pulso” – literalmente.
Fizemos então uma forca tarefa e conversamos "em off" com mais de 20 investidores e empreendedores sobre o que está acontecendo hoje no mercado de VC no Brasil.
O que você irá ler abaixo é uma realidade desafiadora, porém real do panorama. Não estamos aqui para sermos otimistas ou pessimistas, mas para retratar o que está acontecendo. Essas impressões não necessariamente refletem o que nós acreditamos, mas sim o que escutamos destas fontes.
A interpretação geral é que estamos no terceiro ano de ajuste das startups: tudo começou no final de 2021, quando os múltiplos de receita das empresas públicas despencaram. Em 2022, entre fevereiro e maio, veio de fato uma nova realidade: as rodadas privadas, como sempre, seguiram o mercado público e a incerteza sobre o pricing fez o mercado diminuir consideravelmente de ritmo. Esses fenômenos decorreram do aumento da inflação global, que gerou um aumento da taxa de juros a fim de controlá-la, impactando assim o investimento de risco.
Veio 2023, que foi um ano binário: de um lado, a insurgência de um dos mais importantes eventos tech dos últimos 50 anos: o uso geral da inteligência artificial. Do outro, as empresas tech como SaaS e Marketplaces enfrentam dificuldades. As empresas venture-backed que não fizeram o dever de casa, passaram por dificuldades, e os fundos de VC também enfrentaram desafios para levantarem mais recursos junto a seus LPs.
2024 até então tem seguido o seguinte enredo: o mercado voltou, está mais líquido, mais movimentado. Mas pouco convicto. Os LPs estão menos convictos de que VC tem ótimas oportunidades de remunerar o capital num mundo em que a taxa de juros no Brasil está 10,5%. Os empreendedores estão menos convictos de que vão levantar dinheiro. Porém, outros dizem que estamos vendo a melhor safra de empreendedores… dicotomias desse mercado, que são de praxe.
Ou seja, parece que o elo que mais importa, que é a convicção de que é o melhor momento para construir empresas, está alto, que é o que vale. E também são nesses momentos de baixa convicção que geralmente se constroem as empresas mais inovadoras do mundo….
Dito isso, vem aí mais detalhes dos insights sobre o momento do mercado de VC a partir de conversas com o ecossistema:
Mercado Atual: Frustrante e Oportuno
O cenário atual é descrito como simultaneamente frustrante e oportuno. A frustração advém das incertezas globais e governamentais que dificultam a captação de recursos. No entanto, isso também cria oportunidades, já que empresas de alta qualidade continuam crescendo e gerando valor em um mercado menos competitivo. É possível passar mais tempo analisando empresas sem o "FOMO".
O oportuno também vem dos valuations mais baratos em relação aos últimos anos, com redução de 30-50% do pico. Isso gera uma maior margem de segurança para os fundos. Para detalhes da série A/série B, os múltiplos de mercado estão menores: Ouvimos falar de 5x-6x para SaaS B2B, mas não temos uma amostra relevante para firmar esse assumption.E, obviamente também escutamos das exceções que estão saindo a 8x-10x.
Os investimentos continuam em ritmo consistente e a percepção é de que o mercado está mais líquido do que nos últimos anos.
Produtos excelentes e times competentes não esperam ciclos de mercado ou taxas de juros favoráveis para empreender, e fundos continuam a financiar.
Barra Elevada para Investimentos
A maioria dos investidores aumentou a barra de qualidade, investindo apenas no top quartile de oportunidades. Fundos estão sendo mais seletivos, priorizando empresas com a trinca: unit economics, crescimento alto e eficiência de capital.
Caso não tenha um dos 3 elementos, a negociação fica mais difícil. Por exemplo: se for projetado grande crescimento até o final do ano, provavelmente o fundo prefere esperar para ver se a empresa entra nesta curva.
Tudo que é para o futuro, os fundos estão esperando para ver.
Desafios de Valuation e Exits
Um desafio significativo é a expectativa irreal de valuation por parte de alguns empreendedores. Há alguns que se ancoram nos valores da última rodada ou nos valores praticados para empresas de AI nos Estados Unidos.
Além deste fator, também há o desafio do exit: vender uma empresa é um processo complicado e para fazer IPO "de verdade", só com um EBITDA significativo.
Para uma região como a América Latina, que é um buyers market, vender uma empresa é um inferno. Para fazer um IPO relevante, no mínimo US$100/150MM de Ebitda.
Fintech e AI como Focos de Investimento
Fintech continua sendo um setor dominante para investimentos, especialmente em teses de B2B fintech, embedded lending, infraestrutura de crédito e expense management.
Mas a rainha da vez, não tem como nao ser, é "AI". Colegas de VC comentam que mais de 80% das teses são "AI powered" em algum aspecto, nos mais diferentes setores: healthcare, logística, RH.
Há incertezas sobre o diferencial competitivo de startups de AI na região, com investidores brasileiros ainda se adaptando à análise dessas empresas. A maior parte dos investidores da região tem dúvida sobre o "edge" e defensibilidade.
Como disse Victor Lazarte, founder da Wildlife e GP do Benchmark recentemente: "Right now, investing in AI can be disorienting, because everyone knows that we’re about to go through this incredible transformation. But in that transformation, where’s the value going to accrue?"
Desafios de Confiança no Ecossistema
Existe uma descrença crescente no ecossistema de tech na América Latina, exacerbada pelo macro (alta taxa de juros, incertezas governamentais) e micro (falta de retornos significativos de investimentos anteriores). A classe de ativos como um todo é afetada por este cenário.
Fundos Gringos
Eles ainda estão aqui, mas muito mais seletivos. Interesses de asiáticos (Chineses) aumentou consideravelmente e de árabes também. Um investidor gringo investir neste momento é um atestado de qualidade e gera um alto impacto, ainda mais se é a primeira vez (como o caso de Summit Partners e de Bond Capital, este ano).
As principais franquias globais têm parado de investir na região e "novos entrantes" como micro fundos que acreditam na região tem investido.
Estágio
No Brasil, o mercado pre-seed e seed está ativo e funcionando bem, enquanto as séries A+ se tornaram mais desafiadoras.
Apesar das incertezas, o mercado de tecnologia na América Latina apresenta oportunidades únicas. Com valuations mais baixos e um mercado mais líquido, há espaço para investimentos mais criteriosos.
Conclusão
Historicamente, o sucesso dos fundos de VC foi impulsionado por duas grandes ondas: a digitalização e o boom da cloud. Agora, uma nova onda se aproxima: a inteligência artificial. Isso sinaliza que estamos num momento propício para bons investimentos e oportunidades, pois a inovação continua independente dos ciclos econômicos.
Os empreendedores estão mais motivados do que nunca a construir empresas inovadoras. Em suma, os desafios são grandes, mas as oportunidades são igualmente promissoras para aqueles determinados a transformar a realidade.
Este artigo é um esforço coletivo, e agradecemos a cada empreendedor e investidor que compartilhou suas experiências.
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