Por que tá todo mundo correndo?
Sunday Drops 🌊 #94
Eu tenho um grupo de 15 amigos próximos. Desde a pandemia, pelo menos metade começou a correr.
Esse não é um fenômeno exclusivo dessa amostra. O número de influencers de corrida deve ter dobrado. As corridas de rua dominaram os finais de semana e, acredite se quiser, tem sido mais fácil comprar ingresso para elas do que para festas. As receitas das empresas de tênis, como a Hoka e ON Running, estão na máxima histórica. O mercado de well-being parece estar crescendo cada dia mais.
Por quê?
Qualquer fenômeno decorre de algumas variáveis para acontecer. É isso que diz o "efeito lollapalooza", culminado por Charlie Munger.
No caso da corrida, há alguns aspectos que contribuem para o crescimento da mesma:
Mimetismo e o efeito positivo das redes sociais
A saúde mental e construção de relações
Taxa de adoção e difusão.
Também menciono ao longo do artigo a relação da corrida com empreendedores e a ascensão dos negócios vinculados a este esporte.
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O crescimento da corrida
Mimetismo e Redes Sociais
René Girard foi um filósofo e professor da Universidade de Stanford que criou a tese do mimetismo: segundo o mesmo, os seres humanos têm uma tendência inata de seguir o comportamento do outro. É por isso que restaurantes cheios são mais atraentes, que rodadas com muitos investidores são mais hypadas e existem coisas como padrão de beleza. A tal da autenticidade é, em muitos casos, uma grande copiadora de padrões.
As redes sociais catalisam o efeito mimético, para bem ou para mal. A expansão da corrida foi correlacionada com o lado bom das redes sociais: à medida que mais pessoas postam nas redes sociais os efeitos positivos, mais são influenciadas. É o "user generated content para o bem" e a corrida é altamente influenciada por uma produção orgânica de stories e reels.
Ao contrário de esportes como o tênis e o surfe, que ganharam popularidade através de figuras icônicas como Guga e o 'Brazilian Storm', a corrida é predominantemente influenciada pelo círculo íntimo de cada praticante, tornando-a uma experiência mais pessoal e comunitária. No último relatório da Strava, mais de metade dos atletas consideraram que a principal inspiração é o "inner circle", que são a família e amigos que treinam.
A saúde mental e a construção de relações duradouras
A corrida ganhou popularidade durante a pandemia, com o New York Times em 2021 descrevendo-a como "o esporte perfeito para pandemia… tudo que você precisa é um par de tênis e um espaço de 1 metro". De fato gerou resultados: Segundo com uma pesquisa da RunRepeat, 30% dos corredores ativos hoje começaram a correr neste período.
The Atlantic escreveu um artigo recente que fala da "nova crise dos 25 anos" e mostra que 20% dos inscritos em maratonas estão na faixa dos 20, versus 10% em 2019. É algo concreto que você pode conquistar em uma idade que se fosse em outra geração, uma parcela relevante estaria na fase de "casar ou construir família", o que já não é a principal realidade de hoje.
Corrida e saúde mental andam lado a lado. Falando nela, uma pesquisa recente sugeriu que correr em grupo é tão efetivo quanto antidepressivo para tratar depressão e ansiedade.
Minha amiga maratonista Marcella Falcao me mandou uma pesquisa da Strava em que 81% dos participantes apontaram que a corrida é um caminho importante para a felicidade. Ainda de acordo com o estudo, 92% dos corredores afirmaram se sentir bem depois de correr e 90% disseram que aliviam o estresse dessa forma. Além disso, cerca de 87% consideram que correr reduz a ansiedade e a autoconfiança melhora para 80%.
Correr estimula a liberação de substâncias como dopamina e endorfina, gerando um aumento de bem-estar e diversos benefícios à saúde.
Alta taxa de adoção e difusão
Quem acompanha o blog, sabe que gosto de falar de "viralidade" por meio do conceito de Everett Rodgers. No caso da corrida, há 3 elementos presentes em produtos virais que fazem com que ele tenha uma taxa de difusão alta:
Visibilidade. 99% das pessoas que correm postam. Parece que faz parte do ritual e é bem quisto. Isto ajuda a espalhar e catalisar o efeito "viral da corrida".
Testabilidade. É possível ir no próprio pace e não é preciso muito equipamento. Para testar basta força de vontade e um tênis.
Simplicidade. É simples. Você corre. Se você está viajando a trabalho, basta levar um par de tênis e ir correr. Não é preciso pagar nada, nem reservar, nem de mais pessoas para praticar.
É um esporte democrático e também competitivo. Diferente de outras modalidades como vôlei, tênis, futebol, a competição é consigo mesmo, sendo o "pace" a medida de evolução.
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O negócio da corrida
Economicamente, o mercado de corrida está em ascensão.
A Hoka, uma das queridinhas dos corredores, cresceu 8x desde 2018, evoluindo de US$ 30MM em Q1 2018 para US$ 352MM no Q3 2023.
A Ticket Sports, responsável pela ticketeira dos eventos esportivos, cresceu mais de 50% em 2022. O número de corridas de rua saltou de 1.181 em 2022 para 1.421 em 2023, um aumento impressionante de 20%. E na Maratona de Boston, uma das mais famosas entre os praticantes, teve um recorde de brasileiros em sua última edição.
A Track & Field e Live Run continuam a enfileirar lojas (e provas de ruas) por todo o país.
A Dobro, uma marca de suplementos focada no endurance, tem crescido três dígitos ao ano com sua inovação no mercado de nutrição esportiva, principalmente com o crescimento dos géis de carboidrato.
A Strava, o aplicativo, atingiu mais de 250 milhões de corredores, com um IPO esperado para os próximos dois anos.
As empresas de fashion para corrida têm crescido. A roupa básica tem dado espaço a marcas de óculos ciclope, roupas coloridas e tênis estilosos. A Financial Times chama de "fashionalização do esporte".
Até no mundo das startups, a corrida é uma tendência de networking concorrendo com happy hours. Os amigos do Cubo e da Saasholic criaram a TechRun, que junta empreendedores e investidores em eventos de corrida.
Endurance e Empreendedores
A corrida também é popular entre empreendedores. Troquei uma ideia com meu amigo Guilherme Freire, 3rd time founder, triatleta, e empreendedor na Dolado e ele me comentou algumas coisas interessantes:
Esse esporte de alguma forma reflete diversos aspectos da jornada empreendedora, desde o ato de superar limites até a busca constante por melhorias. Assim como ao empreender, é preciso ir além. A corrida também é válvula de escape da pressão que os fundadores sofrem. O ato de correr impacta diretamente a autoestima e isso aumenta a confiança do empreendedor em assumir riscos. Por fim, correr está diretamente relacionado à disciplina. Acordar cedo, manter uma alimentação saudável e estabelecer metas ambiciosas para provas são hábitos que criam uma disciplina que, automaticamente, se reflete na gestão dos negócios.
A corrida é a exemplificação do ciclo de causa e efeito: resultados dependem da disciplina e são quase que exclusivamente resultados do esforço do corredor. E parece que à medida que os resultados aparecem, o corredor fica mais viciado em querer mais.
O veredicto final é que, pode ter hype envolvido, mas a corrida deixará uma marca e mensagem para aqueles que entraram nesta onda. A retenção será muito melhor que em outros esportes, como o beach tennis, pois os ganhos parecem ser mais contundentes e as lições de superação, maiores.
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Acho que agora entendo os meus amigos.
O esporte corrida é uma festa que é fácil conseguir um convite e advinha só, te deixa mais forte, focado e confiante.
Agora me deixa ir porque chegou a hora de começar a correr. Não vou perder essa festa.
+ alguns recados
Por coincidência da vida, Marcella Falcão também postou um artigo hoje sobre os benefícios da corrida. Confere aqui: https://pipelinevalor.globo.com/day-off/noticia/o-mantra-dos-corredores-paciencia-persistencia-e-resiliencia.ghtml
A Dobro é uma marca de suplementas esportivos cofundada pelo meu grande amigo Victor Comper. Sua jornada empreendedora me ensinou muito sobre a resiliência e a Dobro tem se tornado uma das líderes desse mercado. Se você corre, os produtos podem ser bons para você. Conheça mais por aqui: https://www.soudobro.com.br/
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