O sentimento atual de empreendedores e investidores
10 conclusões de conversas sobre fundraising
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O sentimento do mercado de startups é o mais conservador dos últimos anos no que se refere à confiança na captação de novas rodadas de investimento em startups.
Por um lado, empreendedores estão inseguros na capacidade de captar recursos com investidores de Venture Capital nos próximos meses. Do outro, investidores de Venture Capital estão mais seletivos e com a barra mais alta acerca de novos investimentos.
Dito isso, resolvi escrever esse artigo com comentários sobre o cenário atual do fundraising. É um artigo mais "qualitativo", uma vez que não estou embasado em dados e sim realmente no meu sentimento como investidor, e dos 25 Venture capitalists e empreendedores que questionei sobre o momento atual de captação para startups.
As 10 conclusões da pesquisa:
1) A morte do crescimento sob qualquer custo.
Podemos decretar que essa narrativa, que foi normalizada por um período de tempo, morreu (pelo menos até o próximo bull market rs). Há uma nova lente dos investidores no qual as margens, unit economics e métricas de eficiência tornaram-se o ponto central das conversas sobre captação.
O foco transitou de puro "growth" para entendimento dos alicerces de sustentabilidade do negócio. As empresas que mais têm sofrido são justamente as com unit-economics frágeis e margens apertadas.
2) Receio de captar no momento (privilégio de quem pode esperar)
Empreendedores têm a percepção de que, se forem levantar uma nova rodada, sofrerão uma penalização em termos de valor de mercado dado o contexto de mercado. Com isso, aqueles com fôlego financeiro, com "runway estendido", têm preferido aguardar uma clareza maior de cenário para ter as conversas.
3) Inside Rounds estão comuns
Inside Rounds não é o tipo de rodada de investimento bombástica que aparecem no Brazil Journal.
São aquelas no qual os investidores prévios fazem novos aportes na empresa a fim de aumentar a participação e o caixa da companhia. Em um período de bear market, tem sido uma opção viável para startups com fundos institucionais apoiando. É o tipo de rodada que mais tem acontecido no mercado e as startups que estão conseguindo são as que tendem a ter com boa performance.
Outro ponto em questão são os Downrounds, que acontecem quando startups captam investimentos sob um valuation menor do que o já levantado anteriormente. A impressão é de que ainda não está acontecendo um número significativo de downrounds no mercado. Minha hipótese é de que deveremos ver ao longo dos próximos meses, quando as empresas com baixo crescimento, pouco fôlego financeiro e apetite dos investidores prévios irem ao mercado e se debaterem com o dilema entre vender ou fazer um down round.
4) Redução do número de empreendedores
Investidores do Early Stage têm sentido uma redução global do número de novos empreendedores, especialmente do perfil "Máfia Tech" que são C-Levels de scale-ups. A hipótese levantada é que no momento de "bear market", muitos estão optando por permanecer no seu atual emprego dado a incerteza. O "willingness" para empreender diminuiu.
O lado positivo do cenário caótico é que principalmente empreendedores de "alma" estão se aventurando nesse momento e acaba afastando os "turistas".
5) VCs demorando mais para tomar decisão
A redução da liquidez do mercado provocou mais calma na tomada de decisão de investidores e com isso, o timing de captação das rodadas aumentou. Isso está alinhado também com a nova mentalidade de redução do FOMO (Fear of Missing Out) que estava intenso no mercado de VC nos últimos anos.
6) Atividade relevante de M&As
O mercado de fusões e aquisições tem acontecido longe dos holofotes. Há muita empresa com caixa que tem sido agressiva na aquisição de startups, que muitas vezes se encontram sem saída quando estão sem fôlego financeiro e/ou sem perspectiva de captação de novos recursos. Vale ressaltar que muitos M&As estão acontecendo sob múltiplos de receita baixo, ou como acquihires.
O bull market dos últimos anos deixou como herança o bolso cheio de muitas startups e de empresas públicas (principalmente nos Estados Unidos).
7) Redução de Valuations e Tamanho de rodadas
O output mais óbvio é a redução global dos valuations e tamanho de rodadas das startups. Isso é um fato citado por todos os empreendedores e investidores.
Outro fato comum é a dissonância entre o pedido de volume de investimento das startups e o volume de investimento no qual o deal está sendo finalizado. Como Tom Tunguz escreveu, o sentimento é de que o "Bid/Ask" spread está altissimo. Tem sido comum o empreendedor pedir um valor de rodada alto e após um tempo, voltar para o fundo falando que irá captar menos dinheiro.
Creio que há uma demora de aceitação na nova realidade, o que é normal dado que o reajuste aconteceu repentinamente.
8) Os mais afetados em termos de falta de liquidez tem sido as empresas pós série A
As empresas “late-stage” são um capítulo a parte. São as que mais sofreram pela redução de liquidez na América Latina, uma vez que o capital “turista” de fundos estrangeiros reduziu drasticamente nos últimos meses ao mesmo tempo que o principal player Softbank reduziu muito o seu escopo na América Latina. Além disso, há uma dificuldade maior em precificação de ativos dado a incongruência dos múltiplos de receita das últimas rodadas de investimento das empresas "late-stage”com o que está sendo praticado em termos de valuation nos mercados públicos.
9) Mão de obra preciosa disponível.
Escutei de founders early stage que contrataram times de tecnologia e produto inteiros de alguma empresa que teve um layoff em massa. Segundo empreendedores, tem sido muito mais fácil contratar e o turnover de talentos reduziu muito.
10) Superfounders operadores mais conservadores no investimento anjo
No bull market, os principais deals do mercado tinham a presença no captable de founders de unicórnios ou scale ups. O sentimento é de que eles tem reduzido significativamente o número de investimento em startups. Há duas hipóteses:
- Eles tiveram muita exposição financeira a novos investimentos no passado e estão mais cautelosos.
- Os stakeholders tem exigido foco total na operação.
Esse é o sentimento captado no mercado, a partir das diferentes visões que ouvi dos empreendedores e investidores. Vale ressaltar que a demanda por boas startups, que crescem e resolvem uma dor grande continua muito alta. É apenas um cenário diferente em termos de como uma rodada de investimento acontece.
O intuito desse artigo é trazer perspectivas de "insiders" que possam contribuir para quem founders tomem melhores decisões estratégicas acerca dos próximos passos.
Resumindo:
A morte do crescimento sob qualquer custo.
Receio de captar no momento (de quem pode esperar)
Inside Rounds como protagonista de novas rodadas
Redução do número de empreendedores
VCs demorando mais para tomar decisão
Atividade relevante de M&As
Redução de Valuations e Tamanho de rodadas
Os mais afetados em termos de falta de liquidez tem sido as empresas após série A
Mão de obra preciosa disponível.
Superfounders operadores mais conservadores no investimento anjo
Leia também: A nova realidade do Venture Capital e seus impactos no mundo das startups.
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