O grande problema
[TL,DR: Se não formarmos mais programadores, o crescimento do mercado de tecnologia do Brasil será afetado; para solucionarmos, devemos focar em: financiamento, awareness e qualidade dos cursos]
O primeiro passo para resolver um problema é identificá-lo e reconhecê-lo. No Brasil, temos um problema gravíssimo que afeta e pode impactar ainda mais toda a indústria de tecnologia: a falta de mão de obra qualificada. É angustiante a falta de oferta que temos: Já escutei de CTO de startup de alto crescimento com muitos desafios técnicos que a maior parte do tempo dele estava alocado para hiring. Não bastava o RH e headhunters estarem alocadas para essa tarefa, era preciso também o envolvimento do CTO porque estava muito difícil encontrar bons programadores. A falta de programadores no país é o maior gargalo que temos hoje e se não buscarmos resolver, será um problema para toda a indústria de startups e venture capital.
O problema
Quando olhamos o número de pessoas formadas em carreiras STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), temos no Brasil em torno de 170 mil pessoas por ano. Na China, são 6 milhões por ano. Já dá para ver o tamanho da magnitude do problema.
As faculdades se distanciam cada vez mais do que é demandado pelo setor privado, o ciclo de aprendizado no ensino superior é muito longo, além de termos uma realidade a parte nas Universidades Públicas, no qual os professores são concursados e em muitos casos, distantes da iniciativa privada.
Dado o tamanho da bronca que estamos envolvidos, precisamos para ontem de soluções para capacitar a mão de obra gigante e sub-utilizada que temos. E existem empreendedores e empresas que estão lutando por esse desafio: São as escolas de programação.
Nós como membros da indústria de tecnologia, precisamos:
(i) Criar alternativas de financiamento para pessoas que não conseguem arcar com os custos dos cursos;
(ii) Criar awareness para a maior parte das pessoas saberem do tamanho da oportunidade que há nesse mercado de tecnologia;
(iii) Criar cursos de qualidade e adequados ao mercado para que os programadores sejam suficientemente bons para conseguirem um primeiro emprego.
(i) Alternativas de Financiamento
A palavra chave é "alinhamento de interesses". É a relação ganha-ganha. Nos últimos 2 anos, tem crescido muito no Brasil a modalidade ISA: Income Share Agreement. É um contrato no qual o estudante é financiado durante o curso e só precisa começar a pagar quando for contratado por uma empresa. Quando ele estiver trabalhando, o credor desconta um % do salário até o pagamento completo do valor do curso.
O mercado de tecnologia é perfeito para esse modelo pois a demanda por profissionais é muito grande. E continuará a ser muito, muito grande. Então a barreira de entrada para um estudante conseguir trabalhar no setor de tecnologia não é alta. A startup Provi está fazendo um trabalho incrível para prover mais financiamentos nesse modal.
(ii) Awareness
É lindo o awareness que fizeram no Direito. No Brasil, por termos tido tantas pessoas bem sucedidas graduadas em direito, há uma demanda quase que cultural por esse curso. No mundo todo, existem menos de 1200 faculdades de Direito. No Brasil, temos 1406 faculdades. É isso mesmo, temos mais faculdades de direito do que todo o resto do mundo somado.
É preciso gerar awareness e mostrar o potencial de crescimento e ganhos financeiros dos programadores e trabalhadores da indústria de tecnologia. No mundo de startups, é a posição com maior poder de barganha e maior salário.
É preciso massificar a mensagem. Nesse quesito, a Trybe vem fazendo um trabalho importante, ao patrocinar o maior podcast do Brasil, o Flow, para atrair pessoas interessadas em programação para os seu cursos.
(iii) Cursos de qualidade
Escolas precisam qualificar os programadores no mínimo ao ponto deles se tornarem "contratáveis" . Vão existir escolas focadas em qualidade altíssima e outras focadas em entregar resultados básicos. Seja qual for a escolha, ambos os approachs vão ser essenciais para resolvermos o problema estrutural que vivemos no Brasil.
Mercado brasileiro
Não vejo esse mercado se formando com a estrutura de "Winners take all". Na minha visão, será um mercado pulverizado com empresas com diferentes propósitos. A característica que une todas as startups do segmento é um grande vento a favor dado a crescente demanda por essa força de trabalho. Dito isso, a demanda é tão alta por soluções que mesmo sendo um mercado pulverizado, haverá espaço para que varias empresas desse setor fiquem muito grandes.
Incentivar, financiar novas escolas e propagar esse conhecimento para capacitar mais pessoas a entrarem no mercado de tecnologia deveria ser uma pauta em conjunto de todos do ecossistema de startups.
Algumas startups brasileiras que estão tentando resolver esse problema:
Trybe; Tera; Cubos Academy; Le Wagon; Labenu; Kenzie Academy e muitas outras...
Alguns benchmarks estrangeiros:
Lambda School; Strive School; Microverse; Practicum; etc..