Eu acredito que um dos termos mais subestimados é o eureka. Para mim, essa palavra de origem grega representa descobrimento, encontro, insights. Em um mundo recheado de palavras sem significado, do entretenimento de 15 segundos, a beleza de ler algo que nos faz abrir os olhos, reler atentamente e refletir sobre algo que vivenciamos, é uma das mais belas dádivas.
O Sunday Drops de hoje é uma ode a esse fenômeno. São eurekas ou insights de 3 livros diferentes e, cada um, à sua maneira, me proporcionou esses pequenos momentos mágicos. Mas, antes de avançar, quero deixar dois recados.
O artigo sobre o WhatsApp ressoou com muitos empreendedores. Sinto uma obrigação intelectual de fazer variações sobre o assunto. A primeira contribuição para o ecossistema será no formato de um market map: quero unificar todas as empresas "WhatsApp Native" em um mapa/lista, algo que nunca foi feito antes no Brasil. Se você conhece alguma empresa nessa categoria, adicione-a neste link.
O segundo recado é sobre o podcast da semana, que foi com um mentor pessoal: Luiz Manzano, fundador e GP da BigBets. Falamos sobre muitos temas interessantes: o futuro do software, empreendedores técnicos, ser generalista, o estado do mercado de VC e o "value add". Vale a pena conferir. Escute no Spotify ou Apple Podcast.
Sem mais delongas, vamos aos livros:
Eurekas
Originalidade deriva da quantidade | Originais
A chance de produzir uma ideia influente é proporcional à quantidade de ideias geradas.
Simon Sinek
Existe uma correlação entre produzir muito e obter bons resultados. Por meio disso, temos ciclos de feedback mais curtos e um desenvolvimento mais rápido. De certa forma, produzir muito gera resultados. Pegue o exemplo de Einstein: ele ficou famoso pela teoria da relatividade, mas grande parte das suas 248 publicações teve impacto mínimo. Ou Shakespeare: ele produziu 37 peças e 134 sonetos em 20 anos e, na mesma época em que criou suas melhores obras, também produziu as suas piores. Quanto mais ideias você gerar, maior a chance de ter uma ideia boa entre elas. Drake é um rapper conhecido por também lançar muitos discos: ninguém lembra dos que não deram certo, mas sim dos que estouraram.
Poder sem status é tão frágil quanto prego na areia | Originais
Ter poder significa exercer controle e ter autoridade sobre os outros. Ter status significa ser respeitado e admirado. Pesquisas mostram que, quando alguém tenta exercer autoridade sem status, o resultado tende a ser pífio. Existe aquela frase de Maquiavel: "É melhor ser temido do que amado". No contexto do século XXI, quando as opções de todos, inclusive funcionários, são mais abundantes, é preciso buscar ser um pouco mais amado também.
O ressentimento é o sentimento comum quando alguém exerce autoridade sem respeito. Isso alimenta um ciclo negativo e a mensagem, ou autoridade, perde cada vez mais valor. Isso é algo que importa para empreendedores: é preciso, no mínimo, ser respeitado pelos funcionários.
Originalidade = Estabilidade | Originais
Ninguém pode ser original em determinado campo se não possuir estabilidade emocional e social que advém de atitudes regulares em todas as outras áreas que não aquela em que se busca ser original.
Edwin Land, fundador da Polaroid.
Uma empresa, uma invenção, uma música, um livro são extensões do seu criador. O aspecto original reflete a originalidade dessa alma. Mesmo assim, essa originalidade na criação deriva da estabilidade em outras áreas emocionais. Se a vida for caótica em todos os campos (relacionamento, profissional, saúde, espiritualidade, financeira), é difícil construir algo único, ou original, segundo Adam Grant.
Mudar o comportamento | Originais
Se você quer mudar o comportamento de alguém, é preciso entender o que está em jogo. Se o comportamento a ser implementado é percebido como seguro, é necessário focar em todos os benefícios que vêm com a sua adoção.
Se for arriscado, é preciso destacar os riscos de não adotá-lo.
Por exemplo, a propaganda do Ozempic para obesos é mais eficaz ao mencionar os riscos da obesidade. A propaganda do iPhone 16 é focada em todos os benefícios que ele oferece.
Uma Grande História | Moby Dick
Tamanha e tão magnífica é a virtude de um tema amplo e rico! Para escrever um grande livro, é preciso escolher um grande tema. Não há obra grande e duradoura que possa ser escrita sobre uma pulga, embora muitos já o tenham tentado.
Não existe uma grande empresa sem um grande mercado. Ou sem um grande time. Ou sem uma grande ambição. Essa analogia vale para muitas coisas.
O Salto Quântico | Supremacy
A arquitetura Transformers, publicada por 8 cientistas do Google no artigo Attention is All You Need, representou um salto quântico na ciência da inteligência artificial. Alec Radford, cientista-chefe de LLM da OpenAI, ao começar a experimentar essa tecnologia, obteve mais resultados em 2 semanas do que nos últimos 2 anos. Cada vez acredito mais que, na verdade, a tecnologia evolui como uma "step function" e não como uma função linear.
Uma curiosidade é que nenhum dos cientistas que publicou o artigo permanece no Google. A maior parte fundou suas próprias empresas de AI, como, por exemplo, a Character.AI.
O Segredo dos Modelos e a Importância da Iniciativa Privada | Supremacy
Existem discursos políticos fantasiosos de que uma das prioridades da ciência nacional deveria ser construir modelos fundacionais de inteligência artificial no Brasil. Em Supremacy, um dos dados mais curiosos do livro é sobre a diferença entre a importância da iniciativa privada e a pública no mercado. Enquanto os investimentos da iniciativa privada totalizaram mais de US$ 340 bilhões, os da iniciativa pública, excluindo gastos de defesa, estão na faixa de US$ 1,5 bilhão. O maior incentivador da massificação dessa tecnologia é a iniciativa privada, principalmente através das Big Techs.
O risco de estar no controle quase que absoluto da iniciativa privada é a falta de informação sobre os modelos. À medida que se tornam mais poderosos, também se tornam mais secretos. A OpenAI faz pouco "disclosure" sobre como o modelo interpreta e gera outputs. Imagine tomar um remédio ou comer algo sobre o qual você não tem informações de como é produzido. Em parte, esse é o perigo de uma tecnologia tão poderosa.
O que te interessa | Supremacy
Uma das principais qualidades de Sam Altman é ser um ótimo comunicador e capaz de ter excelentes conversas. Uma de suas dicas - que serve para qualquer pessoa -, é: "Não pergunte às pessoas o que elas fazem, mas sim, sobre o que elas estão interessadas."
Importance Market Fit | Supremacy
Para construir AGI, ou seja, a inteligência artificial sob níveis de cognição humana, o time do OpenAI sabia que precisaria atrair muito talento e dinheiro. Para isso, era preciso criar boas histórias na imprensa. Eles focaram em criar eventos que trouxessem a atenção do público, como desafios. Eles chamaram a atenção quando ganharam dos campeões mundiais de Dota 2 (um jogo popular) ou quando criaram mãos empoderadas por AI para resolver o cubo mágico. Desafios importam para atrair a atenção das pessoas, de talentos e investidores.
Isto me lembrou algo que escrevi no sunday drops 87, sobre o importance market fit:
Há uma correlação entre fazer algo que importa e o sucesso. Isto deriva do fato que (i) as melhores pessoas querem participar de algo grande e (ii) são as melhores pessoas constroem projetos de sucesso. Como dizia Steve Jobs:
That’s why it’s so important to pick very important things to do. It’s very hard to get people motivated to make a breakfast cereal. It takes something that’s worth doing.
Obrigado pela leitura.
Te desejo muitos eurekas na sua semana.
Até domingo que vem,
Lucas
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