Economia da Paixão ❤️ (pt.2)
Precursor: Economia da Paixão ❤️ (pt.1). A parte 1 contextualiza o que é a economia da paixão e quais são as premissas para que um criador consiga monetizar a sua paixão. A parte 2 explora as características fundacionais das plataformas que são o alicerce para construção dessa nova categoria.
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A geração gig-economy de plataformas tem um grande ganhador: o consumidor final. Empresas como Uber, Rappi, 99, DoorDash, Craigslist, Ifood, GetNinjas trouxeram algo incrível: acessibilidade de uma forma nunca vista com a valorização do consumidor final, que pôde pagar mais barato e ter maior conveniência em serviços essenciais.
Temos muito a agradecer a essa geração. Mas é tempo de repensar como queremos o futuro.
Apesar de ser fantástica para o consumidor final, essas plataformas têm uma característica semelhante: elas deixam a individualidade dos trabalhadores fora da equação, ou seja, elas commoditizam a oferta de trabalho através da busca incessante por padronização.
Não há dúvidas que a gig economy continuará a ser essencial para a economia, mas há um espaço a ser ocupado por plataformas que visam empoderar as individualidades das pessoas através das suas habilidades únicas. Essas plataformas serão a base do futuro da economia da paixão. Ao longo do texto, vou me aprofundar em 5 características em comum das plataformas da Passion Economy:
A monetização tende a ocorrer por meio da subscrição;
O posicionamento das plataformas é focada nos criadores;
As plataformas valorizam a individualidade da oferta;
As soluções ajudam na profissionalização dos criadores;
As plataformas abrem espaço para novas formas de trabalho.
A monetização tende a ocorrer por meio da subscrição
Uma subscrição é um contrato de compromisso entre duas partes. E essa palavra compromisso é a chave do relacionamento entre criadores e fãs. Por exemplo, assino Stratechery, do Ben Thompson, pagando por mês para receber com um conteúdo praticamente diário sobre tecnologia. O compromisso entre mim e a Stratechery é que eu devo continuar a pagar para receber conteúdos e ele deve continuar a gerar conteúdos que me tragam valor.
É um relacionamento contínuo. Não é uma transação, é uma relação. Por isso que monetização na Passion Economy tende a ser por subscrição ou por algum modelo que permite alta recorrência, contrastando com o modelo tradicional da Gig Economy, no qual o Job to be done é transacional (uma corrida de uber, um pedido de refeição, uma solicitação de serviço, etc).
O posicionamento é focado na oferta
Um dos critérios mais discutidos dentro da Astella é o posicionamento. Através da April Dunford, aprendi que é a fundação de qualquer empresa. O posicionamento nos diz qual a proposta de valor, qual o objetivo da solução e como a startup se posiciona perante o que os outros players no mercado.
Na Passion Economy, as plataformas se apropriam do posicionamento de empoderamento dos criadores que estão na sua plataforma. Essa posse exalta o que há de mais interessante na base de pessoas que utilizam a plataforma: a abundância da paixão no exercício das suas atividades.
Veja, por exemplo, o caso da Podia, que é uma plataforma de conteúdo online. Ao entrar no site da empresa, você pode ver o posicionamento claro: ela é uma plataforma que fornece ferramentas para os criadores monetizarem as suas paixões.
Uma comparação que expõe de forma muito interessante as diferenças de posicionamento é o caso da startup Dumpling. Essa empresa tem como missão permitir que os Shoppers, que são os gig workers que fazem compras para aplicativos, consigam montar suas próprias lojas ao invés de utilizarem marketplaces como Instacart, Rappi, etc.
O posicionamento da Dumpling é pró-oferta.
Em contraste, trago abaixo o print da página do Instacart. No caso deles, o posicionamento é pró demanda (consumidor final).
O posicionamento das plataformas Passion Economy focam no lado da oferta, enquanto as da Gig Economy tendem a focar na demanda.
A plataformas valorizam a individualidade
Não há nada mais pessoal do que a paixão, e isso faz com que as plataformas da Passion Economy valorizem a individualidade, em contraste com a Gig Economy, no qual o foco das empresas é manter os trabalhos padronizados.
Um exemplo de reforço da individualidade é a Skillshare, que é uma plataforma de conteúdo focada em cursos de diferentes áreas construídos por criadores. Lá é possível encontrar cursos sobre quase qualquer assunto como fotografia, ilustração, design. Quando entramos nos cursos ofertados, além de poder visitar o syllabus, a estrutura do curso, a plataforma enfatiza o tutor, as suas experiências e o seu background. Isso representa a alma da Passion Economy: ela coloca o criador como protagonista.
Para falar de individualidade, vou trazer mais uma vez o exemplo do Dumpling. No momento em que um consumidor final busca um prestador de serviços, notamos o quanto a plataforma exalta o Shopper e suas particularidades. Isso permite a diferenciação e não trata a oferta como igual ou padronizada. Como Li Jin fala, plataformas da Passion Economy “view individuality as a feature, not a bug”
Elas ajudam criadores a se profissionalizarem
Um dos movimentos mais interessantes nos últimos 10 anos foi o processo de transformação digital das PMEs. Ainda há um longo caminho pela frente, mas hoje há soluções digitais que ajudam pequenos empreendedores na gestão, nas vendas, no atendimento, marketing.
O empoderamento de PMEs fez parte de um movimento de democratização das ferramentas digitais. O que antes só era possível para “enterprises” devido aos custos envolvidos, se tornou acessível para PMEs à medida que os custos de soluções digitais foram reduzidos com a evolução da tecnologia. A próxima onda de empoderamento será com os solos empreendedores, que na Passion Economy, são os criadores.
Na Passion Economy temos visto surgir a próxima geração de ferramentas que auxiliam criadores a crescerem as suas “empresas” através de soluções profissionais de growth, retenção, gestão, produção. Esse amadurecimento é essencial para que mais criadores consigam viver das suas paixões dado que eles precisam de ferramentas rápidas, práticas e intuitivas que tornem suas vidas mais fáceis para que eles consigam focar seus esforços no que mais importa: no exercício da sua paixão como profissão. Vou deixar exemplos de startups que estão facilitando a vida de criadores:
ChatPay é uma startup brasileira que ajuda criadores a monetizarem seu conteúdos distribuidos em grupos pagos de WhatsApp ou Telegram. Ter um terceiro que cuida do processo de gestão e emissão de cobranças, recebimento, etc, facilita muito a vida do criador, que pode focar mais na sua especialidade;
A Filmr é um aplicativo de edição focado em transformar vídeos e fotos de criadores em conteúdos profissionais. Sigo um canal que fala sobre futebol que se chama “Fuiclear”. Nos vídeos desse blogger, sempre há o logo da FIlmr embaixo: ele utiliza a solução, pois facilita o trabalho dele e permite que ele foque no que importa, o conteúdo.
Outra solução interessante é a Anchor, que facilita a vida de podcasters através de ferramentas de edição de aúdio, distribuição de podcast nas principais plataformas e controle de monetização. Ou seja, se no passado para gravar um podcast era preciso uma infraestrutura considerável, hoje essa necessidade foi reduzida drasticamente para a maior parte dos criadores.
Elas abrem espaço para novas formas de trabalho
Podcaster, Buddy Gamer, Newsletter Writer, Professor Online, Criador de Curso, Coach Virtual, Torcedor de Futebol Influencer, Streamer, Advisor Financeiro Influencer,: a internet abriu um mundo de soluções virtuais para que novas profissões sejam exploradas. O infográfico abaixo, retirado do texto da A16z, expõe o quanto as plataformas de passion economy permitem pessoas a explorarem suas paixões, por mais diversas que elas sejam:
Os dois tipos de plataforma: Marketplaces ou SaaS
E para fechar o texto, vou listar os dois moldais de plataformas que sustentam a Passion Economy: SaaS ou Marketplaces. A diferença estrutural entre os dois modelos refere-se à aquisição dos clientes: enquanto no modelo SaaS a aquisição é primordialmente baseada nos esforços dos criadores, no marketplace essa tarefa faz parte da proposta de valor das plataformas
Gosto do exemplo fornecido por Li Jin no seu texto sobre o assunto, no qual ela compara às duas plataformas para escritores: Enquanto que no Medium a plataforma gera um tráfego os conteúdos, no Substack o esforço para conseguir audiência é uma tarefa solitária por parte do criador (por mais que eles forneçam ferramentas para te ajudar). Por outro lado, no Medium, o leitor está sob “controle” da plataforma e o criador não consegue acessar as pessoas que estão lendo os conteúdos. Já no Substack, os criadores podem a qualquer momento exportar a lista de e-mails dos assinantes mas não usufruem de tráfego gerado pela plataforma.
Marketplaces tem um maior fit com criadores sem audiência.
Plataformas SaaS tem um maior fit com criadores com uma audiência prévia.
Estamos nos primeiros passos da Passion Economy. Vejo um futuro no qual novas plataformas irão empoderar a capacidade criativa da sociedade, através da valorização das habilidades únicas de cada pessoa. E se você for um empreendedor que sonha em transformar a vida das pessoas através da economia da paixão, você vai gostar dessa biblioteca de conteúdos que criei sobre o setor. E se um fundo de VC puder te ajudar na sua jornada, vamos adorar aprender com sua história. Basta escrever para lucas@astellainvest.com.
https://www.notion.so/astella/Passion-Economy-Library
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