Estamos diante de uma revolução do que é trabalho e isso impactará a vida de todos. O artigo de hoje é uma exploração sobre o tema.
Queria agradecer e celebrar os 10.000 leitores do Sunday Drops. É graças a vocês que meus domingos nos últimos 4 anos tem sido felizes escrevendo. Obrigado pelo incentivo e pela leitura.
Espero que gostem desta edição.
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A Última Barreira Contra o Desemprego é a Humanidade
Meu momento Lee Sedol.
São 3 horas da manhã da terça-feira. No dia anterior, tomei uma decisão impulsiva: desembolsei US$200 para assinar o OpenAI Pro com Deep Research. A curiosidade venceu.
Mal sabia eu que estava prestes a vivenciar algo que, mais cedo ou mais tarde, acontecerá com cada um de nós. O momento Lee Sedol.
Lee Sedol foi campeão mundial de Go, um jogo de tabuleiro chinês e popular na Ásia, que pode ser traduzido como um xadrez muito mais complexo.
É um exemplo de alguém que dedicou sua vida a uma única habilidade e viu seu esforço ser recompensado: seu nome figura entre os maiores da história, de forma inquestionável.
Até que, em 2016, algo mudou para sempre. O AlphaGo, um programa de inteligência artificial, não apenas o derrotou - o demoliu com um placar de 4 vitórias a 1. Anos depois, Sedol anunciou sua aposentadoria com palavras que ecoam como um presságio: "Mesmo se eu me tornar o número um, há uma entidade que não pode ser derrotada". Em 2024, ele fez uma confissão ainda mais dolorosa: jamais teria se tornado profissional se soubesse o que uma IA seria capaz.
A sensação que Sedol teve ao perder para o AlphaGo é a mesma que muitos profissionais sentirão ao ver a IA realizando suas tarefas melhor e mais rápido. É um momento que está chegando para todos nós.
Voltando à minha madrugada com o Deep Research.
Decido fazer um teste: pegar um dos trabalhos que mais me orgulho — uma análise detalhada do mercado de tecnologia de irrigação para o agronegócio — e ver como a IA se sairia diante do mesmo desafio.
O Trabalho Original:
Duas semanas intensas de trabalho
Dezenas de fontes consultadas
Relatório completo sobre tendências de mercado
Sensação de domínio técnico
O Teste com Deep Research:
Alguns prompts básicos
30 minutos de processamento
Análise mais abrangente que a minha
Dados que me tomaram dias para encontrar
Foi ali, observando a tela do computador às 3h da manhã, que percebi: não estava apenas vendo um relatório melhor — estava testemunhando a comoditização de algo que fui treinado durante anos, acontecendo em tempo real.
80% do trabalho que havia me rendido elogios e fez me sentir no caminho certo no passado, foi resolvido em minutos por uma IA em 2025.
O relatório fazia 80% do trabalho extremamente bem feito — e os 20% restantes, os que ainda precisavam de um toque humano, estavam ligados ao que só eu podia oferecer: contexto, criatividade, interpretação e julgamento.
O que se sucedeu foi um sentimento de 3 fases:
O primeiro foi um luto, que veio do choque inicial de perceber que certas habilidades técnicas perderam valor.
O segundo é aceitação, e o entendimento que a realidade da IA é inevitável e precisa ser absorvida.
O terceiro é a evolução, que é o sentimento de que há formas de se utilizar a IA para crescer e agregar valor, além do fato que o lado humano de está longe de virar commodity.
Escrevo estas palavras não apenas para compartilhar, mas para organizar meus próprios pensamentos. Escrever para mim é pensar. E posso adiantar: do outro lado deste momento de epifania, existe uma das maiores oportunidades que a humanidade já vivenciou.
Mas antes de mergulharmos nessa discussão, precisamos começar pelo básico: o que é, afinal, trabalho?
O que é trabalho?
Trabalho não deixa de ser um agrupamento de tarefas que podem se dividir em três categorias: "Tarefas Rotineiras-administrativas", "técnicas-especializadas" e "tácitas-estratégicas".
As tarefas rotineiras-administrativas são aquelas que exigem mais atenção do que raciocínio complexo: organizar agendas, responder e-mails, fazer follow-ups, processar pagamentos, revisar documentos.
As tarefas técnicas-especializadas são aquelas que aprendemos através de estudo e prática, seja em instituições formais ou por conta própria: analisar demonstrativos financeiros, estruturar relatórios de due diligence, conduzir exames médicos, desenvolver códigos de programação.
As tarefas tácitas-estratégicas são aquelas que transcendem o conhecimento formal - são moldadas pela experiência, intuição e visão estratégica, como: elaborar uma estratégia de entrada em novo mercado considerando nuances culturais, construir e liderar times de alto desempenho, desenvolver diagnósticos médicos complexos em casos atípicos.
O nosso dia-a-dia é um combinado destas três dimensões. Quanto mais sênior, a pessoa passa a atuar cada vez mais na esfera tácita-estratégica. O que torna o avanço da IA- em especial do Deep Research- tão impressionante é que, pela primeira vez, presenciei uma evolução exponencial em "tarefas técnicas" acontecendo praticamente da noite para o dia.
Isto é natural: afinal, a máquina nunca foi tão inteligente quanto agora, nem havia superado os humanos em tantas atividades como neste momento.
A Comoditização
A vida parece seguir uma lei: a abundância de um item precede a comoditização (ou vice versa). Imagine o valor da informação: antes, era altíssima por causa da escassez, graças às restrições logísticas na era sem internet, e isso se refletia no valor dos jornais e emissoras de TV. Mas daí veio a internet e as redes sociais, e o resultado foi a abundância, que transformou informação em commodity.
O mesmo valerá para inteligência técnica/especializada: acessá-la estava restrita às pessoas que se dedicaram para tal e custava caro, afinal pessoas qualificadas custam caro. Agora ela está dentro de um algoritmo e cada vez disponível com qualidade. É a comoditização das habilidades que, até outra hora, eram responsáveis por fazer alguém bem sucedido e que formam a base da classe média. Alguns casos já começaram a emergir:
Recentemente, o CEO do Goldman Sachs reportou que o prospecto de IPO, antes produzido em semanas, agora é feito em minutos — e 95% disso pode ser entregue por IA. Como o próprio CEO ressalta, os últimos 5% do trabalho são justamente aqueles que fazem toda a diferença. A parte que envolve negociação, storytelling, análise qualitativa e criatividade humana ainda é indispensável.
Outro caso emblemático é o de Paul Schrader, que é um dos principais roteiristas da história do cinema e escreveu o premiado Taxi Driver. Ele ficou impressionado com ChatGPT e alegou recentemente que já é melhor do que ele.
A quantidade de trabalhos para programadores nos Estados Unidos está caindo, mesmo no momento de maior digitalização, graças à alavancagem obtida por sistemas de AI.
Teve até feira de carreira para estudantes de ciências da computação cancelada em San Francisco porque as empresas não queriam contratar ninguém.
Um report do Goldman Sachs apontou que mais de 300M de empregos serão afetados pela evolução da AI. Ele indica uma automatização futura de 18% da força de trabalho global e uma possível substituição de 46% dos trabalhos administrativos e 44% dos trabalhos no ramo do direito.
Isso se alinha com a visão de pensadores e líderes como Dario Amodei, fundador da Anthropic, que comentou que, em cerca de 2 a 3 anos, sistemas de AI serão melhores que os humanos em praticamente qualquer tarefa.
Historicamente isso aconteceu em outras revoluções. Um exemplo é o impacto da automatização no mercado agrícola, que reduziu, em escala, a quantidade de trabalhadores no campo.
Como Naval Ravikant, um dos principais filósofos modernos diz: “quanto mais treinável for uma habilidade, mais substituível ela será”. Mas quais as habilidades não são treináveis?
O Fator Humano: Conhecimento Tácito e Habilidades Insubstituíveis
Precisamos sempre lembrar que AI, até agora, é muito bom em tarefas, ou seja, em parte das tarefas que compõem o trabalho.
O que resta é a parte mais valiosa: o que não pode ser reduzido a um conjunto de regras claras, que não pode ser codificado em algoritmos ou manuais:
O insight criativo diante de um problema complexo
A empatia ao lidar com um cliente
O julgamento em situações inéditas
A capacidade de improvisar quando faltam informações
O storytelling.
São os aspectos não treináveis e humanos que se tornarão mais fortes.
Pense no trabalho de um médico durante uma consulta: hoje a IA pode auxiliar no diagnóstico analisando exames e sugerindo possíveis doenças (às vezes com alto grau de acerto), mas somente o médico humano consegue combinar esse input com a conversa que teve com o paciente, entender nuances dos sintomas relatados e considerar fatores pessoais que a máquina não capta. Além disso, o médico exerce empatia e fornece segurança emocional – elementos importantíssimos no cuidado à saúde e impossíveis de serem replicados por um algoritmo. Assim, a tomada de decisão médica envolve conhecimento tácito e relacional que mantém o profissional no centro, mesmo com IA na sala.
Outro exemplo são os creators. Muitas vezes os de maior sucesso não são os que detém o maior conhecimento técnico, mas sim os que conseguem se conectar de forma única com sua audiência. Pense no Thiago Nigro, o Primo Rico. Ele não é a pessoa mais técnica do mercado de finanças, mas ele é quem melhor se conecta com o público que alcança graças a aspectos humanos (storytelling, carisma).
Este mesmo princípio se aplicará a quaisquer profissão: o professor que adapta sua explicação ao perceber a confusão no olhar do aluno, o líder que inspira sua equipe em momentos de incerteza, o empreendedor que identifica oportunidades onde outros veem apenas problemas, o escritor que entende as peculiaridades do seu público para impactá-lo mais.
Estamos diante da melhor oportunidade de fazer o melhor trabalho das nossas vidas.
O trabalho 10x melhor
Imagine que, no mundo perfeito, você pode deixar de fazer todas as coisas chatas do seu trabalho: você pode deixar de realizar todas as tarefas rotineiras e também pode codificar o seu conhecimento dentro do talento técnico.
Imagine se um dia, eu, como escritor, possa só pensar em um tema e então de repente, em 1 hora, um artigo feito com minha escrita está pronto graças a AI... Obviamente ele não estará do jeito que eu quero, mas talvez no caminho. O meu tempo e esforço são investidos em pensar como o meu leitor pode ter mais insights, como agregar aspectos visuais e um storytelling para a leitura ser mais cativante ou então como aperfeiçoar diante da realidade do momento.
Agora troque a palavra escritor por programador, roteirista, advogado, médico, contador, consultor, investidor ou quase qualquer outra que a anedota faz sentido.
Estamos diante da maior oportunidade de alavancar e expandir o nosso impacto. A empresa Sunday Drops não é apenas Lucas Abreu. É Lucas Abreu + IA. Todas as empresas do mundo serão assim, estamos diante de um futuro composto por pessoas e os trabalhadores digitais. É a maior chance das nossas vidas de fazer nosso trabalho bem feito.
Estamos na virada de chave para a terceirização do aspecto técnico e rotineiro, para que as pessoas foquem no aspecto estratégico, tácito, criativo, isto é, no que é verdadeiramente humano. Assim como os seres humanos eram piores que máquinas para colher algodão, os seres humanos serão piores no futuro que máquinas para desempenhar tarefas puramente técnicas.
Então, no roadmap da AI, estamos caminhando para um mundo em que só o lado estratégico e humano importam.
Pode ser que eu esteja delirando e vivendo uma fase de não aceitação do luto? Sim.
Mas a realidade é que não dá para lutar contra a maré, e sim aprender a remar com ela, pois estamos num ponto de inflexão.
Como se adaptar
Nas 3 camadas, o maior risco está nas tarefas rotineiras e técnicas.
Isto é uma liberação do potencial criativo, assim como uma mudança na cadeia de valor do trabalho. O que tenho feito para pensar no meu futuro que pode ser válido para você:
Mapear seu trabalho atual
Liste todas suas tarefas
Identifique o que é automatizável (e comece a automatizar)
Encontre onde está seu conhecimento tácito único
Usar AI como sua extensão.
Use IA para amplificar suas capacidades técnicas
Invista o tempo ganho em habilidades humanas/criativas/não automatizáveis
Desenvolver a capacidade de trabalhar com IA como parceira
Redefinir seu valor
Parar de competir somente em eficiência técnica
Focar em criar valor através de insight, criatividade e conexão humana
Construir seu diferencial no que as máquinas não podem replicar
A IA não está aqui para nos substituir, mas sim para nos libertar. Libertar do trabalho mecânico, do processamento repetitivo, das tarefas que consomem nossa energia criativa. É um presente que nos permite focar no que realmente importa: inovar, criar conexões, resolver problemas complexos, gerar insights únicos.
O momento Lee Sedol não é o fim da história. É apenas o primeiro movimento de um jogo muito mais interessante, que está começando.
Acesse aqui para ler a versão Deep Research do artigo sobre o tema. Fica a seu critério decidir se é melhor ou pior do que escrevi rs.
Obrigado a Camila Abreu, João Landeiro, Júlia Garcia, Luiz Carneiro e Perpetual Compounder pela revisão e inputs!
Este é um artigo válido para quaisquer pessoa, afinal todos seremos impactos. Compartilhe no grupo da empresa, com seus familiares, amigos .
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