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As pessoas falam que é “legal”, “informativo”, além de “gratuito”.
Existe dois tipos de circunstâncias na vida:
As que temos algum controle e as que não temos o menor controle.
Para o que controlamos, o objetivo é tentar o nosso melhor. Autocuidado, estudar, trabalhar, fazer exercício, curtir com a família, etc.
Para o que não controlamos.. bom, não temos controle então é melhor nem pensar muito.
No mundo das startups, falamos muito dos aspectos que podemos ter algum controle: máquina de produto, máquina de vendas, mercado, experiência dos founders.
Já dos aspectos que não temos controle… bom, quase ninguém fala.
Mas diferente do lado humano, no mundo das startups podemos ter uma avaliação razoável de alguns aspectos externos. E dentre eles, o mais importante chama-se Timing.
Timing é aquela história de estar no lugar certo no momento certo.
Bill Gross, founder da IdeaLab, fez uma pesquisa com mais de 200 startups1 para descobrir qual aspecto tinha sido o mais determinante para o sucesso dessa amostra. Ele analisou 5 variáveis diferentes: modelo de negócios, capacidade do time, funding, ideia e timing.
A resposta do estudo foi que, de todos os aspectos, timing foi o fator chave mais relevante para o sucesso das startups na amostra.
Concordo com Bill. Na minha experiência de mais de 4 anos trabalhando com startups, de todas as empresas que vi performando, essa é a variável em comum.
Timing é algo tão abstrato que parece divino. É confundido com sorte, acaso, momento. Por mais que seja intangível, dificil de mensurar, existe um framework interessante do fundo NFX2 que nos permite analisar de uma forma racional se um mercado está no timing correto.
O framework se chama Teoria da Massa Crítica das Startups. Quando o mercado atinge os 3 pré-condições que vou descrever abaixo, significa que existe uma janela interessante para startup crescer de forma rápida. Eles são:
Tecnologias Habiltadoras
Impetu Econômico
Aceitação cultural
Pré-Condição 1 - Tecnologias Habilitadoras
A entrega de todo produto digital ocorre no ambiente de terceiros: isto é, um aplicativo de corridas como o Uber funciona no celular. Netflix, ou youtube, rodam primariamente em desktop ou em smart-tvs. Sistemas de IOT utilizam redes de alta latência para conseguir enviar informações de forma rápida entre máquinas.
Esses exemplos servem para ilustrar que fatores pré-existentes de tecnologia são essenciais para que empresas consigam ofertar serviços em escala.
Vamos usar como case o Waze. Esse aplicativo fornece previsões acuradas de melhores rotas baseadas na localização dos usuários da rede. Quanto mais pessoas na rede, mais inteligência e melhores informações real-time de como está o transito e outras variáveis nas regiões. A solução é muito menos valiosa para centros urbanos quando há poucos usuários. Uma vez que a localização é gerada a partir do celulares das pessoas, é um tipo de startup que nunca daria certo antes da população ter acesso em massa a smartphones.
Outro exemplo: Com a disseminação do smartphone e das redes sociais, hoje praticamente todas as pessoas que trabalham têm um aparelho em mãos e a possibilidade de divulgar os produtos na sua rede. Isso faz com que haja a ascensão de plataformas de social selling, que é a possibilidade de prospecção e relação com potenciais clientes nas redes sociais com o objetivo de gerar vendas. Empresas como Bornlogic (que fornece soluções para grandes empresas descentralizarem o marketing), estão surfando e liderando essa revolução, que não seria possível 5 anos atrás.
Estar muito à frente do tempo pode ser um erro. A demora da maturação em produto digital tende a significar uma baixa proposição ou captura de valor e fará com que a empresa necessite de muito capital. É difícil que fundos que investem em tecnologia financiem uma jornada tão longa até a monetização.
Founders de sucesso conseguem explicar o porquê o mercado está em mudança e as tecnologias existentes permitem que seu produto seja utilizado em escala.
Pré-Condição 2 - Ímpeto econômico
Ímpeto econômico nesse contexto significa transformações na realidade financeira de um setor. Ao longo do tempo, há serviços ou produtos se tornam mais baratos e outras que se tornam mais caros por N razões. Além disso, há nichos que se tornam mainstream.
Mudanças econômicas criam oportunidades. Founders precisam estar atentos e essa é uma prerrogativa do timing.
Airbnb e Uber nasceram de um momento interessante de transformação econômica. Eles foram criados após a grande crise de 2008 e naquele momento, a necessidade da sociedade em ganhar mais dinheiro era veemente (infelizmente devido ao desemprego). Isso fez com que pessoas se tornassem mais abertas a ideia de hospedarem um estranho na sua residência ou então utilizarem o seu carro como forma de ganhar dinheiro ao trabalharem como motoristas.
A mensagem é: a internet e a revolução tecnológica transformaram abruptamente a monetização em diversos setores. Novas oportunidades estão se abrindo e outras se fecham com tantas mudanças.
Citando mais uma vez aqui no Sunday Drops o enxadrista José Raul Casablanca:
In order to improve your game, you must study the endgame before anything else
É preciso buscar racionalizar para onde vai a riqueza de um setor. É uma prerrogativa importante para entender se o timing está correto.
Pré-Condição 3 - Aceitação cultural ou Zeitgeist
Zeitgeist é uma palavra criada por filósofos alemães para descrever o “espirito dos tempos”. Zeitgeist é o momento, é o hype, é a razão sobre por quê estamos discutindo temas como home office, minimalismo, vegetarianismo. Esses temas estão em alta pois eles são culturalmente relevantes para uma fatia da sociedade contemporânea. É algo do momento? É zeitgeist. É uma das melhores ferramentas para pensarmos “Whats the next big thing?”.
A aceitação cultural é parte do zeitgeist. Por exemplo, empresas de pioneiras do Dating Online sofriam com a aceitação cultural da época. Com a transformação da sociedade, migrando para a conexão digital, se tornou algo muito mais natural. Hoje mais de 40% dos casais se conhecem de forma online. Há uma aceitação cultural sobre o tema.
As empresas que mais se capitalizaram em cima da oportunidade foram aquelas que começaram em ~2005, quando houve um turning point de relevância desse novo jeito.
Estar atento a aceitação cultural é parte fundamental do timing. Nem tão cedo, quando ninguém enxerga o valor devido, nem tão tarde quando já se tem os ganhadores da categoria.
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Uma startup diante de tendências demográficas, tecnológicas e socioculturais tende a ter um crescimento acelerado. Além disso, é mais fácil para vender aos clientes finais e captar com investidores.
Startups com melhor timing tem uma maior taxa de sucesso e é um dos aspectos ocultos de sucesso.